segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Deixar ir embora...

Nas últimas semanas tenho tentado escrever sobre este tema, mas parece que toda vez que começo a escrever, algo me interrompe, talvez seja mera coincidência, ou talvez seja meu inconsciente me sabotando para que eu não entre em confronto e continue fingindo, enganando a mim mesmo dizendo que tudo está bem no meu belo e perfeito mundo azul.

Deixar ir embora... como é difícil deixar ir embora uma parte da nossa história, e quando eu falo deixar ir embora não é simplesmente deixar o físico ir difícil mesmo é deixar partir a história, mostrar a porta de saída para as emoções, para os sentimentos, para as lembranças que aquele partiu deixou, se é que foram deixadas, acredito mais que aprisionamos as lembranças, os sentimentos, como uma forma de manter um pedaço de quem se foi com a gente.

Terminar um relacionamento não é algo fácil, é uma história construída a dois que termina, e o que era vivo vai se tornando uma memória cinzenta, as formas, o cheiro, o toque, o beijo, tudo se torna meras lembranças em nossa mente, e essas lembranças correm, e quando desaceleramos estas lembranças, quando elas passam em câmera lenta em nossa mente, conseguimos entender o porque deixar ir embora é tão doloroso, porque quando fazemos uma releitura das nossas lembranças, nós entendemos o porque nossos olhos brilharam, nosso coração acelerou e porque por um tempo de sua vida você chegou a acredita que aquela seria a pessoa que estaria do seu lado pelo resto de sua vida.

Quando repassamos estas lembranças, entendemos de onde veio o encanto, tudo faz sentido, você consegue identificar o momento exato em que você se apaixonou por aquela pessoa que foi embora, e esta mágica é tão grande que se pudesse você se apaixonaria uma, duas, quantas vezes fossem necessárias por aquela mesma pessoa, mas então você se dá conta que acabou e que tudo agora não passa de lembranças e recordações em uma caixa guardada dentro do armário.

E quando nos damos conta, o sorriso frouxo dá espaço a uma lágrima quase involuntária, e daí o que nos resta é a dor, a dor da perda, a dor da frustração, a dor de deixar ir uma parte de si... Uma certa vez, há muito tempo atrás uma pessoa me contou uma história de um imperador chinês que se apaixonou pelo canto de um rouxinol, e de tanto que aquele canto lhe fazia bem ele pediu para que seus soldados, capturassem e aprisionassem o rouxinol em uma gaiola para que ele pudesse sempre ouvir o canto do rouxinol, mas com o passar do tempo o rouxinol parou de cantar de tanta tristeza por estar preso, e o imperador então soltou o rouxinol para que ele não morresse... Já ouvi e li esta história com diferentes narrativas e finais, mas no final das contas acredito que o que ela quer deixar de ensinamento que deixar ir embora é preciso, manter alguém preso ou se manter preso em um relacionamento onde não existe mais o canto do rouxinol é condenar a si próprio a uma vida de tristeza, e isso não é justo para quem está do nosso lado e principalmente para nós próprios.

Alguns dizem que o tempo cura todas as cicatrizes e ele se encarrega de colocar todas as coisas seus devidos lugares, mas já tentei deixar isso por conta do tempo e hoje vejo que não funcionou, então não basta aceitar o final e deixar ir embora e esperar que o tempo passe e tudo se resolva, que a dor vá embora, desapareça como se nunca tivesse existido. A vida não funciona assim, o tempo só esconde, ele não resolve, não podemos deixar a cargo do tempo uma responsabilidade que é nossa, o tempo acalma o coração para que possamos tomar as decisões mais acertadas, e a decisão correta é deixar ir não só a pessoa, mas deixar ir as lembranças, deixar ir embora os sentimentos que ela deixou, porque enquanto continuarmos apegados a estas lembranças, a estes sentimentos e emoções nunca vamos ter deixado ir embora em definitivo, sempre vai ter um pedaço daquela pessoa em sua vida, vamos viver iludidos que nossa felicidade está condicionada a ela, que só podemos sentir, que só podemos sorrir, que só podemos amar se for aquela pessoa... e nesse jogo de enganar-se a si próprio o tempo vai passando e com ele as oportunidades de sentir tudo aquilo novamente com uma outra pessoa, as oportunidades de fazer com que aquelas lembranças e aqueles sentimentos voltem a acontecer, em um contexto diferente e com possibilidades de desfechos diferentes.

É importante deixar ir embora, para que um novo alguém possa entrar...


terça-feira, 3 de novembro de 2015

Take me to church...

Sou amante de músicas, mas não de qualquer tipo de música, gosto de músicas de melodia mais elaborada e letras mais intensas, músicas que me façam pensar, música que tirem da minha zona de conforto, que arranquem a casca da ferida e jogue álcool em cima, sem dó nem piedade.

Lembro de ter lido em algum lugar que músicas emocionalmente intensas, tipo aquelas que fazem você lembrar do fim de um relacionamento, que remetem a algum tipo de sofrimento ou experiência significativa, fazem com que nosso organismo libere dopamina, o neurotransmissor que promove a sensação de prazer, então podemos dizer que ouvir Adele equipara-se a a satisfação que a comida, sexo e drogas proporcionam.

Além da questão da dopamina, normalmente essas músicas possuem apogiaturas, que são notas usadas para ornamentas a melodia principal, estas notas secundárias podem estar acima ou abaixo da nota principal, e são muito utilizadas pelos corais gospeis americanos, aqueles que arrepiam qualquer ouvinte, pois bem, as apogiaturas geram tensão no ouvinte, e depois do período de tensão vem a satisfação, ou seja, quanto mais apogiaturas a música tem, maior é o ciclo de tensão vs. satisfação.

Mas não quero falar sobre a base científica que fazem com que nos viciemos em algum tipo de música, como está acontecendo com a mais nova música da Adele, que por sinal é uma música maravilhosa, mas tirando a ciência, tirando a razão o que nos resta é a emoção, porque afinal de contas somos assim, um misto de razão e emoção em proporções diferentes, mas sempre com estes dois pólos.

Acredito que algumas músicas fazem com que nos lembremos de alguma situação antiga ou presente que possuem um significado emocional grande para nós, algumas músicas fazem você refletir e sair fora da sua zona de conforto emocional, lugar que normalmente ficamos e não fazemos muita questão de sair, afinal sempre vai ser mais fácil acomodar do que confrontar.

Agora pouco ouvi uma música, Take me to church do Hozier, que me fez pensar em algo que muito me aflige, a questão dos dogmas religiosos, o quanto o dogmatismo pode ser extremamente prejudicial, acho que por mais de uma vez já escrevi que na minha concepção tudo que é radical não é real, então busco fugir do radicalismo seja ele qual for, mas nem por isso me permito ficar em cima do muro, não me permito fingir não ter uma posição ou uma opinião sobre alguns assuntos.

Dizem que política, futebol e religião não se discutem, sou contra essa linha de pensamento, acho que política e religião devem ser discutidas sim, afinal são essas, as duas maiores forças formadoras de opinião no planeta, a política de forma macro e a religião de forma mais pessoal determinam o tipo de sociedade e de cidadão que somos, então é um assunto que precisa ser pensado, repensado, discutido e questionado.

Desde sempre a religião tem funcionado mais como um agente castrador do que um agente motivador dentro das sociedades, os dogmas religiosos são ferramentas de coerção e medo, o dogmatismo não valoriza a individualidade, não valoriza as diferenças, é muito mais difícil manter as pessoas sob controle, quando elas podem se expressar suas individualidades e contestar os paradigmas sociais, afinal de contas individualidade e gestão de massa são dois conceitos que se relacionam muito bem.

E a letra dessa música foi como um soco no estomago, me fez ver o quanto hoje em dia a religião se tornou suja, o quanto hoje as pessoas fazem as atrocidades que fazem em nome de um Deus egoísta e sadista. Como é fácil hoje em dia ser ignorante, como é fácil hoje em dia ser racista, como é fácil hoje em dia ser covarde, é fácil demais, afinal hoje em dia é tudo responsabilidade de Deus, somos idiotas porque Deus quer que sejamos idiotas, nossa estupidez se baseia em uma fé cega e inconsequente.

Pobre humanidade, séculos e séculos se passaram e nos consideramos evoluídos com base nas descobertas e feitos tecnológicos enquanto nossa alma continua tão ignorante quanto na época em que se quer a roda havíamos descoberto, continuamos os mesmos idiotas mimados que insistem em terceirizar a responsabilidade das suas ações a um Deus onipresente, onisciente e onipotente. Eu particularmente acredito em Deus, mas o meu Deus é muito diferente desse Deus tão cultuado hoje em dia, acredito em um Deus que ama a todos, um Deus que respeita a todos, um Deus que nos conhece pelo nome, afinal não somos um rebanho de ovelhas, somos pessoas diferentes tentando conviver em um mundo comum.


Para aqueles que não estão com o inglês afiado a ponto de entenderem a letra completa, segue link com a letra e a respectiva tradução, 



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Se você parar... fudeu...

Nem todos os dias são azuis, nem todas pessoas são confiáveis, nem todos os sorrisos são reais, e nem todos os abraços são sinceros, essa é a realidade da vida, vivemos em um mundo cão, onde a maioria das pessoas estão pouco se importando com sua dor ou sua felicidade, estamos na era do "cada um por si e Deus por todos"... 

Normalmente escrevo textos sobre a importância de se manter uma perspectiva positiva independente da situação, então vocês podem ter estranhanhado as minhas palavras, mas não há nada para se estranhar, não há nenhuma inverdade, o mundo é cruel mesmo, o mundo é um filho da puta pronto pra chutar sua bunda no seu primeiro vacilo. 

Não, antes que me perguntem, não estou revoltado. Estou sendo realista, e aceitar a realidade nos torna mais inteligentes e quando ficamos mais inteligentes, o mundo e nem as pessoas não nos passam pra trás, nos tornamos donos de nós mesmos, e daí sim o mundo trabalha a nosso favor, quando nos posicionamos frente ao mundo e deixamos pra trás a posição passiva, tomamos as rédeas do nosso dia-a-dia, e ter este controle é o que nos faz fortes, ser dono de si é o caminho para sermos felizes de verdade.

Acho que cansei de ouvir as pessoas reclamarem da vida que levam e ver que nada fazem para mudar a situação em que vivem, acho que cansei de ver as pessoas esperarem que os problemas se resolvam em um passe de mágica, que o destino se encarregue de transformar todo o drama de uma vida em um lindo conto de fadas. Amigos fadas não existem, contos de fadas existem nos livros e nas telas da TV, fora isso as histórias que tem um final feliz, ou tiveram um início ou um desenrolar difícil, repletos de desafios e momentos tortuosos, mas essas pessoas não foram babacas para esperar que a felicidade chegasse em um passe de mágica, elas entenderam a realidade, que a vida, destino, mundo, seja lá como você chama é um grande filha da puta e você vai passar a vida inteira lutando contra ele para alcançar as coisas que você almeja.

Estou cansado de gente preguiçosa, cansado de pessoas reclamonas, cansado de gente covarde... o mundo é pra quem tem coragem, coragem de acordar todos os dias, colocar a cara a tapa e lutar... então por favor, se você for dos que desistem facilmente... passar bem....


terça-feira, 8 de setembro de 2015

De luto... mas eu luto

Todos os seres constroem sua vida em relacionamentos, criamos laços e esses laços faz com que nos envolvamos afetivamente, seja na nossa família, em nossa vida profissional em nossos empregos, com nossos bens materiais, nossos animais de estimação e nossas relações amorosas, todas elas são laços, e as vezes estes laços nos envolvem, essas relações começam a fazer parte da nossa vida, e acreditamos que a outra parte envolvida nestes laços é nossa, um bem, uma propriedade, e a grande verdade é que não é, a única coisa que de fato é nossa em nossa passagem terrena somos nós mesmos, de resto não temos nada.

Mas somos seres egoístas, e quando alguma coisas nos é tirada, ou até mesmo quando algo ou alguém decide que está na hora de soltar os laços e terminar algum tipo de relacionamento, uma injustiça está sendo feito, tendemos a não enfrentar os finais como eles devem ser enfrentados, trabalhar as perdas da maneira correta não é uma tarefa tão fácil, aceitarmos que somos impotentes perante as perdas é doloroso. Como aceitar a perda de um ente querido? A morte do seu animal de estimação? A perda de um objeto que tem um valor afetivo inestimável? Como aceitar que o amor da sua vida, não durou para sempre? Como aceitar a perda daquele emprego para o qual você se dedicou tanto?

Não é certo, Deus deve estar errado, ou então nos pregando uma peça, porque aquilo ou aquele era meu, como ele pôde tirar isto te mim sem ao menos me pedir autorização? Eu não mereço sofrer, eu não mereço perder. São muitos "nãos" que vem à nossa cabeça em uma situação de perda, a famosa negativa, negamos que podemos perder, mais que isso, negamos que perdemos, uma situação de perda é fato consumado, perdemos e ponto final, não existem possíveis desdobramentos, só a perda e só. 

E quando perdemos precisamos vivenciar o luto, a psicologia fala que para vivenciarmos o luto precisamos passar por alguns estágios, o primeiro é a negação que falei acima, onde negamos a perda, insistimos em acreditar que ela não aconteceu, depois vem a raiva, ficamos com raiva do mundo, raiva de Deus, uma pontinha de inveja daqueles que tem aquilo que perdemos, culpamos a Deus e ao diabo por nossa dor, a perda é inconcebível e inaceitável neste estágio, e nosso ego insiste em nos cegar e dizer que não podemos perder, temos que ter tudo e tudo do nosso jeito.

A raiva vai passando e dai entramos em um estágio de negociação, queremos negociar a nossa dor, normalmente esta negociação é com Deus, prometemos sacrifícios, fazemos promessas, juramos por Deus e todos os santos coisas inimagináveis para termos o quer perdemos novamente, mais uma vez nosso egoísmo gritando, transformando adultos em crianças mimadas que podem e querem tudo a qualquer custo, como eu disse a negociação é vã, afinal a perda é fato consumado, o que se foi se foi, não volta, não podemos trazer alguém da morte, não podemos fazer com alguém que decidiu sair de nossa vida volte só porque queremos, só porque sofremos, a vida ela é dura, é feita de ciclos, e todo ciclo tem início, meio, fim e algo que muitas vezes esquecemos, recomeço... então não adianta negociar, é preciso aceitar os fins, mas antes de aceitar passamos por um outro estágio, a depressão.

Quando falo em depressão não necessariamente estou falando de uma depressão severa, mas sim uma tristeza, esta tristeza vem depois que a negação e a raiva vão perdendo espaço, e quando estes dois sentimentos vão embora o que resta é um vazio, e nada pior para qualquer ser humano do que se sentir vazio, sentir que lhe falta algo, sentir que com a perda daquela pessoa ou daquela coisa, se vão todos os planos e todos os projetos relacionados ao ente ou objeto perdido, é quando a dor é real, quando a dor é mais razão e menos impulso.

Depois da tristeza vem a aceitação, quando entendemos que não somos donos de nada e de ninguém, quando aceitamos a perda, e entendemos que o espaço vazio pode ser preenchido e que pessoas e objetos vão, mas as lembranças, o bem feito fica, aceitamos o fim...  e quando aceitamos com paz e serenidade completamos nosso luto, e ninguém passa por um processo de luto e continua do mesmo jeito, o luto nos muda, nos transforma e nos marca. 

Perder é uma merda, perder dói, mas perder nos torna mais humanos e menos egoístas... A vida é passageira, pessoas e coisas, vão e vem, histórias começam e terminam, e a única coisa sobre a qual temos poder é sobre nossas ações, valorize sempre o que tem e quem você tem do seu lado, porque tudo tem um fim e quando este fim chegar a dor vai ser inevitável, mas ela pode ser menor se você tiver o sentimento de dever cumprido, de ter dado valor ao que realmente tem valor.

Quando perder, grite, chore e sofra, mas o principal aceite a perda e lembre que tudo tem início, meio, fim e o principal um RECOMEÇO!

No luto... lute!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O poder do positivo...

Fiquei um bom tempo sem escrever, mas não por um motivo ruim, muito pelo contrário, tem muitas coisas acontecendo nestas últimas semanas, planos que estavam somente na minha cabeça, estão ganhando formato, deixando de ser só um sonho e se tornando realidade, e isto está me trazendo tanta felicidade, um sentimento tão bom que acho que não consigo descrever em palavras.
Nas minhas últimas postagens eu havia falado muito sobre os momentos ruins que estava passando e sobre como foi sair desse buraco negro chamado depressão e voltar ao normal, mas eu descobri uma coisa, que quem passa por um episódio depressivo, nunca mais volta ao normal, nunca mais somos os mesmos, quando vencemos a depressão nos tornamos melhores, nos tornamos maiores.

A angústia e a tristeza dão lugar à gratidão, a gente passa a ver que temos mais coisas para agradecer do que para reclamar, as pequenas coisas ganham valor e no fim das contas você enxerga e reconhece o quão rico é, e que na caminhada evolutiva, as vezes é preciso cair para se levantar e ver mais longe, você vê que seus olhos enxergam caminhos e soluções que antes eram invisíveis, que suas pernas são tão fortes que você pode andar quilômetros sem se cansar, que seus braços cruzados hoje se abrem num abraço, que seus ombros caídos hoje são forte e suportam muito mais peso do que antes, e que seu coração antes despedaçado e descompassado, hoje bate compassado e feliz e pronto para voltar a confiar e amar novamente.

Esta doença faz com que deixemos muitas vezes de acreditar nas pessoas, passamos a nivelar todos por baixo, como se o comportamento ruim de alguém obrigatoriamente se tornasse padrão para todas as outras pessoas ao nosso redor, a percepção da realidade e do ser humano se distorce, esquecemos que o mal é minoria e que pra cada pessoa disposta a nos machucar existe uma multidão capaz de arrancar um sorriso de nosso rosto, por mais que existam pessoas ruins, por mais que passemos por situações difíceis, o universo tende para o positivo, e é nesta palavra que está a chave para toda a mudança. 

Ser positivo, acreditar que o melhor pode, deve e vai acontecer... mudar nossa percepção sobre o mundo e a respeito das pessoas, enxergar o bom não é fácil, mas é libertador, é gratificante, nos traz paz e no fim das contas é isso que nos mantém firme e seguindo em frente. E nesse momento meu maior desejo é para que todas as pessoas que estão vivendo reféns da depressão se encontrem, se enxerguem vencedoras como são, e mudem seu jeito de pensar, que passem a enxergar o mundo e a se enxergarem de um modo mais positivo, de um modo mais real.

Tem muita coisa boa neste mundão, então mude-se e aproveite...


quarta-feira, 1 de julho de 2015

Para sempre Alice

Acredito que perder as suas lembranças deve ser uma das piores coisas que pode acontecer ao ser humano, se esquecer de tudo o que viveu, das experiências boas e ruins, se esquecer dos tombos, dos sucessos, dos sorrisos, das lágrimas, dos amores, da família, da sua cor favorita, da comida que mais gosta, esquecer-se de si, é como perder sua história e isso sim é triste, esquecer da sua história, deixar de existir, deixar de ser.

E é isso que o filme "Para Sempre Alice" retrata, ele conta a história de Alice, uma professora e pesquisadora de linguística da Universidade de Columbus que sempre se destacou por seu intelecto, que descobre aos 50 anos que sofre de Alzheimer, e vê sua vida mudar num curto espaço de tempo devido ao poder avassalador da doença. Alice é interpretada pela maravilhosa atriz Julianne Moore, a qual ganhou um Óscar pelo papel, que diga-se de passagem foi merecidíssmo, porque a atuação dela é sensacional, a mudança da personagem com a evolução da doença impressiona, de uma mulher bonita e imponente para uma mulher mal tratada e frágil, a fragilidade de Alice é tão tangível que me pensar e repensar em algumas coisas.

O nosso sistema cognitivo é tão rico e importante, é ele que nos faz perceber o mundo, experimentar situações, desenvolver o raciocínio, criarmos memórias e usarmos todos estes dados para continuarmos nossa evolução dia após dia, nosso sistema cognitivo nos mantém em equilíbrio. Há algumas semanas atrás, meu computador teve uma falha no sistema operacional e eu não conseguia mais utilizá-lo da maneira que precisava, perdi diversos arquivos, a funcionalidade dele ficou reduzida até que ele simplesmente parou de funcionar e me vi obrigado a comprar outro, o Alzheimer funciona do mesmo modo, nosso sistema cognitivo, vai se debilitando cada vez mais e o doente vai perdendo sua funcionalidade, pequenos lapsos de memória que vão progredindo até o doente não se lembrar mais de seus familiares, das suas necessidades fisiológicas e nem mesmo de si próprio, até chegar uma hora que esse organismo tão complexo chamado ser humano para de funcionar, mas diferente de um computador, não temos como comprar um cérebro novo, ou fazer um backup de nossas memórias, o Alzheimer é uma doença degenerativa e ainda sem cura.

Depois do filme fui ler um pouco mais sobre a doença e os números me impressionaram, atualmente no mundo temos por volta de 36 milhões de pessoas que sofrem da doença e com o aumento da expectativa de vida esses números tendem a aumentarem drasticamente, duplicando até 2020 e triplicando até 2050, no caso de Alice ela diagnosticou a doença aos 50 anos, idade incomum para a manifestação da doença, ela procurou um neurologista pensando que tinha dito um derrame ou estava com algum tipo de tumor no cérebro, mas nunca passou pela cabeça dela que poderia ter Alzheimer, nem pela minha, afinal o que ela mais fazia era exercitar sua cognição, ela era extremamente inteligente, mas como disse o médico, a capacidade dela intelectual fez com os sintomas demorassem mais a aparecer, mas em contrapartida isso estava inversamente ligado com a velocidade da evolução da doença, ou seja, a doença evolui muito rapidamente, em 02 anos ela já havia perdido a percepção de si.

Tudo isso me fez pensar o quão pequenos e vulneráveis somos, hoje podemos ser doutores e amanhã estarmos dementes sem saber ao menos amarrar um sapato, e mais do que isso o quantos somos dependentes de outras pessoas, o quão importante é criar laços e relacionamentos verdadeiros, saudáveis e duradouros, porque como dizem "o mundo dá voltas e o trecho é curto", então nunca sabemos quando vamos precisar que alguém nos estenda a mão. No caso de Alice ela tinha uma família bem estruturada, um marido que a amava e três filhos adultos e bem formados, e mesmo assim ficou visível que a doença não só desgastava a cognição de Alice, como também sua família, todos adoeceram, todos tiveram que reaprender, se readaptar.

Um tempo depois de descobrir a doença Alice foi convidada a dar uma palestra sobre o tema para um grupo de pessoas envolvidas na doença, pacientes no estágio inicial da doença, médicos e parentes de doentes, e o mais interessante é que ela havia escrito um discurso muito técnico sobre a doença e levado três dias para conseguir escrevê-lo, mas sua filha mais nova disse que ela deveria ser menos técnica e mais assertiva e escrever sobre o que a doença significava para ela e o discurso foi simplesmente comovente, a parte que mais gosto é quando ela diz que não para as pessoas pensarem que ela estava sofrendo, mas sim que ela estava lutando.

Vale muito a pena assistir ao filme, repensarmos uma pouco sobre nossa percepção da vida, nos apegamos muito ao passado, às memórias, às nossas lembranças, projetamos muitas coisas para o futuro, criamos expectativas e planos que não temos a certeza se vão se concretizar ou não e nessa angústia em relembrar o passado e criar um futuro acabamos por não viver o hoje, e acredito eu que essa seja a maior lição que o filme me deixou, valorizar mais o presente, afinal não sabemos o futuro e em um piscar de olho podemos esquecer todas as nossas lembranças.

Escrevendo assim passa a impressão que o filme é um filme pesado, mas pelo contrário é um filme super leve, daqueles gostosos de ver, a deterioração de Alice chama atenção, afinal Alice vivia de seu intelecto, sua capacidade de raciocinar era o que a movia, pensar a fazia existir, e a capacidade de pensar já não existia, ela perdeu a capacidade de formar frases, resgatar lembranças, só existia o caos, e isso nos faz pensar que Alice havia deixado de existir. Pode haver algo pior do que deixar de existir, do que deixar de ser? 

Poderia passar horas aqui falando sobre minhas impressões sobre o filme, todas as cenas vão fazer você repensar algo, isso se você estiver disposto a isso, mas de novo, a cena que mais me cativou foi a cena do discurso, segue abaixo a íntegra do discurso e o meu convite para assistirem o filme.

“A poetisa Elisabeth Bishop escreveu: ‘A arte de perder não é nenhum mistério; tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério’. Eu não sou uma poetisa. Sou uma pessoa vivendo no estágio inicial de Alzheimer. E assim sendo, estou aprendendo a arte de perder todos os dias. Perdendo meus modos, perdendo objetos, perdendo sono e, acima de tudo, perdendo memórias.
Toda a minha vida eu acumulei lembranças. Elas se tornaram meus bens mais preciosos. A noite que conheci meu marido, a primeira vez que segurei meu livro em minhas mãos, ter filhos, fazer amigos, viajar pelo mundo. Tudo que acumulei na vida, tudo que trabalhei tanto para conquistar, agora tudo isso está sendo levado embora. Como podem imaginar, ou como vocês sabem, isso é o inferno. Mas fica pior.
Quem nos leva a sério quando estamos tão diferentes do que éramos? Nosso comportamento estranho e fala confusa mudam a percepção que os outros têm de nós e a nossa percepção de nós mesmos. Tornamo-nos ridículos. Incapazes. Cômicos. Mas isso não é quem nós somos. Isso é a nossa doença. E como qualquer doença, tem uma causa, uma progressão, e pode ter uma cura. Meu maior desejo é que meus filhos, nossos filhos, a próxima geração não tenha que enfrentar o que estou enfrentando. Mas, por enquanto, ainda estou viva. Eu sei que estou viva. Tenho pessoas que amo profundamente, tenho coisas que quero fazer com a minha vida. Eu fui dura comigo mesma por não ser capaz de lembrar das coisas. Mas ainda tenho momentos de pura felicidade. E, por favor, não pensem que estou sofrendo. Não estou sofrendo. Estou lutando. Lutando para fazer parte das coisas, para continuar conectada com quem eu fui um dia. 
‘Então, viva o momento’, é o que digo para mim mesma. É tudo que posso fazer. Viver o momento. E me culpar tanto por dominar a arte de perder. Uma coisa que vou tentar guardar é a memória de falar aqui hoje. Irá embora, sei que irá. Talvez possa desaparecer amanhã. Mas significa muito estar falando aqui hoje. Como meu antigo eu, ambicioso, que era tão fascinado em comunicação. Obrigada por essa oportunidade. Significa muito para mim.”  Alice

terça-feira, 30 de junho de 2015

A mágica não dura para sempre...

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Voltar a viver é tão bom. coisas bobas que não fazia há tanto tempo voltaram a fazer parte do meu dia a dia, como ler um livro, assistir um filme... uma das coisas que a depressão me deixou de brinde foi a insônia, algumas noites durmo bem, outras não tão bem e em outras nem durmo, mas não perco mais tempo pensando em coisas negativas, ou me apegando ao que não me faz bem, então nas noites insones, leio, assisto TV, jogo vídeo game, limpo a casa, mas não permito mais que a minha mente seja refém de pensamentos ruins nas minhas noites em claro.

Hoje estou tendo mais uma noite de insônia, então aproveitei para assistir um filme e passar o tempo até o sono decidir vir me fazer companhia, não queria um filme muito profundo que me fizesse pensar muito, queria entretenimento puro, então decidi assistir Cinderela, a versão live action produzida pela Disney, e interpretações a parte o filme entretêm, o elenco é um elenco bom, com Kate Blanchett como a madastra, Helena Bonhan Carter como a fada madrinha e a não tão conhecida Lily James como a inocente Cinderela, já fazem o filme valer a pena, some a isso os efeitos visuais e a fotografia sensacional, pronto, temos um bom filme.

Acredito que todos conheçam a história da Ella, uma jovem que perde a mãe na infância, é criada com muito amor pelo pai, passados anos o pai se casa novamente e a Ella passa a conviver com sua nova madrasta e de brinde duas irmãs, atrapalhadas, egoístas e burras, mas como eu sempre digo, "desgraça pouca é bobagem", em uma viagem a trabalho o pai de Ella morre, e a pobrezinha sofre maus bocados na mão da megera da madrasta, lava, passa, cozinha, e tudo mais que você possa imaginar, com a morte do pai a família ficou sem dinheiro, sem empregados, então a madrasta aproveitou a boa vontade de Ella e a fez de empregada. Que mudança, de filha única do papai à empregada multifuncional, e nem assim Cinderela perde o sorriso no rosto e a bondade dentro dela, confesso que as vezes me dava vontade de entrar dentro da TV,  grudar a Cinderela pelos braços, dar um chacoalhão e dizer "Gata, manda sua madrasta pra puta que pariu", mas com o decorrer do filme comecei a entender que ela não era tão frágil como parecia, e que na verdade o que me incomodava não era a submissão dela à situação, mas sim a paz que ela tinha e a maneira positiva de enxergar as coisas, porque no final das contas foi isso que eu mais gostei no filme, o como a história mostra a importância de se olhar as situações negativas de uma maneira diferente.

O ápice do filme, é quando a madrasta a proíbe de ir ao baile, e a fada madrinha aparece e faz com que o sonho dela se realizasse, e daí tem todo o lance dá carruagem de abóbora, os ratinhos que viram cavalo, e os tão famosos sapatinhos de cristais, e lá se foi Cinderela pro baile, de gata borralheira à princesa, conquistou o princípe, causou inveja nas outras donzelas, virou o centro da festa, mas como avisado pela fada madrinha, a magia não dura pra sempre e pontualmente a meia noite, a carruagem viraria abóbora e tudo voltaria ao que era antes.

Caraca, pensei comigo, é bem isso na vida da gente, a mágica não dura pra sempre, a gente não vai ser o centro das atenções a todo momento, a mágica um dia acaba e é preciso aceitar isso, a realidade, para que o efeito dela, esse sim, tenha um efeito duradouro, aproveitar os momentos mágicos conscientes de que eles acabam e felizes pelas lembranças e lições que nos deixam, sem apego... Cinderela teve que lidar com perdas importantes, mãe, pai, sua história, suas referências, foi tudo tirado dela, por uma madrasta que só pensavam em dinheiro, e de tanto pensar em dinheiro não acumulou o que Ella tinha de mais precioso, experiências que a tornaram uma pessoa mais forte e ao mesmo tempo mais leve. O contraste é muito grande entre as duas, no final das contas a frágil da história era a madrasta, que poderia ter feições fortes, postura imponente, mas tudo aquilo ali era uma casca, pra esconder todos os medos e inseguranças que pouco a pouco vamos percebendo durante o filme.

O resto da história todo mundo conhece, ela sai correndo, perde um pé do seu sapatinho de cristal, a madrinha descobre que ela foi ao baile, o príncipe loucão faz de tudo pra encontrar a Cinderela e sai numa busca meio sem noção, fazendo com que cada donzela do reino tente calçar o sapato de cristal, e quem conseguisse seria a nova rainha, a madrasta sabendo disso tranca a pobre mocinha no sótão, mas como é um conto de fadas, o príncipe encontra a Cinderela, ela calça perfeitamente o sapato de cristal, eles se casam e vivem felizes para sempre. Aposto que eles devem ter tido muitas brigas, muitos momentos difíceis, mas como disse a fada madrinha "A mágica não dura para sempre", mas com certeza tiveram uma vida feliz, com alguns momentos mágicos, mas definitivamente com muitas histórias.

Tiveram dois momentos que me fizeram pensar em algumas. Logo depois da madrasta ter rasgado o vestido da Cinderela e a proibido de ir ao baile, ela corre para o jardim e começa a chorar e relembra do que a mãe dela havia pedido para ela no leito de morte "Seja gentil e tenha coragem", e ela chora dizendo que não tem mais coragem, que não acredita mais em nada, sim, vemos Cinderela na "bad", mas aí aos poucos ela vai criando coragem e mudando um pouco suas atitudes, essa frase é falada muitas vezes durante o filme, e está nela o segredo da paz de Madre Cinderela de Calcutá, gentileza e coragem, ser bom com as pessoas e coragem para aceitar e mudar as situações definitivamente nos erguem, nos fortalecem e mudam nossa vida.

Outro momento do filme que gostei foi quando o príncipe a encontrou no fim do filme, ela trancada no sótão, descabelada, roupas velhas, sem maquiagem... uma imagem bem diferente daquela princesa imponente do baile, mas aquela era ela de verdade, e enquanto ela desce as escadas para encontrar o príncipe, cheia de medos e insegurança quanto a reação e aceitação do príncipe em relação a sua verdadeira imagem temos a narração da fada madrinha que diz "...Quem ela era, quem era de verdade seria o bastante? Desta vez não havia magia para ajudá-la, talvez este seja o maior risco que podemos correr, sermos vistos como somos de verdade..." 

Essas duas cenas me fizeram entender que mesmo que ela nunca encontrasse o príncipe encantado, mesmo que ela continuasse pobre pelo resto dos dias, a Cinderela continuaria sendo feliz, ela continuaria a viver em harmonia consigo, porque ela tinha três premissas de vida, duas que a mãe dela ensinou "Seja gentil e tenha coragem" e a outra que a vida ensinou "Seja você", e a equação foi resolvida, Cinderela era aquele poço de bondade e paz porque ela era gentil, corajosa e principalmente, ela era ela mesmo, e eu vou deitar com essas três metas em minha vida. ser mais gentil, ser mais corajoso e acima de tudo ser mais eu mesmo.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Essa tal felicidade...

Há mais de 2 mil anos Aristóteles já dizia que a felicidade se atinge pelo exercício da virtude e não da posse, tenho pensado muito neste tal "exercício da virtude", o que é exercitar a virtude, quando tenho dúvidas gosto muito de ler o pais dos burros e ler as definições das palavras, no caso da palavra virtude, quando vamos ao dicionário encontramos a seguinte definição: "2.conformidade com o Bem, com a excelência moral ou de conduta etc.; dignidade."

Acho que de toda a definição o que eu mais é "conformidade com o bem", então exercer a virtude é simplesmente ser bom, mais uma vez, a felicidade não está no ter, está no ser. O psicólogo e matemático, Daniel Kahneman, dentre de suas diversas pesquisas onde ele aborda a relação do comportamento humano com o dinheiro, ele chegou a conclusão que há 50 anos atrás, as pessoas de forma geral tinha como ideal de felicidade, estarem casadas, possuírem uma casa própria, um carro na garagem e ao menos um filho estar cursando ou ter passado pela universidade, e hoje passado estes 50 anos, grande parte das pessoas que definiram que os pontos acima eram os pontos essenciais para a felicidade, relataram estarem insatisfeitas e não se sentirem realizadas ou felizes. Está ai a prova científica que a felicidade não está em nenhum bem material, a felicidade não está no ter, ela está no ser, mas ser o que? Somente ser bom é o suficiente? E eu digo não.

Acredito que que o primeiro passo para sermos felizes de fato é entendermos que a felicidade não é uma constante, e como sempre digo, nem poderia ser, afinal o equilíbrio só existe quando existe a oposição, então primeiro temos que entender que intempéries e tristezas vão continuar existindo, vamos continuar passando por momentos difíceis, mas entender que esses momentos difíceis servem para preparar nossa alma para momentos e situações melhores que nos levarão a sermos mais felizes.

Outro ponto importante é vivermos mais o hoje, vivemos num mundo em que somos muito cobrados, somos cobrados a vida toda pelos nossos pais, vamos para a escola e somos cobrados pelos nossos professores, começamos a trabalhar e temos um chefe nos cobrando, casamos e temos um cônjuge que nos cobra, temos filhos e nossos filhos nos cobram, as pessoas vão sempre projetar suas expectativas em nós, elas esperam sempre que sejamos de uma determinada maneira, e nessa constante roda de cobrança muitas vezes acabamos cedendo e tentando sempre nos enquadrar ao modelo perfeito que o outro criou para nós, e passamos a vida toda correndo atrás de um modelo de perfeição que não existe, um modelo de perfeição inatingível. Acho que todos nós se não fazemos isso, já fizemos em alguma parte de nossa vida, acordamos e pensamos: "eu tenho que ser um bom filho", "tenho que ser um bom aluno", "tenho que ser um bom profissional", "tenho que ser um bom namorado(a) ou esposo(a)", "tenho que ser um bom pai" e desse modo vamos nos sufocando nas expectativas dos outros e traçando planos a curto, médio e longo prazo para sermos aquele alguém que alguém projetou para nós, e gastamos nosso tempo nesse esforço insano em sermos melhores custe o que custar, e acabamos nos perdendo nesse emaranhado de "tenho que" e esquecemos que só existe um único "tenho que" que realmente importa, temos que acordar todos os dias, olhar para o espelho e dizer com firmeza para si mesmo que hoje EU TENHO QUE SER FELIZ e só. Quando estamos felizes, isso afeta de forma positiva todas as nossas outras relações.

Nosso maior compromisso não é com o outro, é conosco, nosso maior responsabilidade não é com o futuro, é com o hoje. Parar de projetar as coisas para o futuro é importante, claro que não vamos ser inconsequentes em viver como se não houvesse amanhã, mas precisamos viver mais o hoje, diria que temos que investir 80% do nosso tempo e esforços para ações que veremos os resultados a curto prazo e os outros 20% nos planos a longo prazo. A felicidade não é uma constante, não tem como estarmos bem todos os dias, mas ela tem que deixar de ser uma eterna projeção, algo que sempre está longe, que está sempre em coisas futuras, quando paramos para pensar podemos contabilizar inúmeros motivos que temos no dia de hoje para nos considerarmos pessoas "de sorte", pessoas felizes, se você não conseguir contabilizar no mínimo 05 motivos para ser feliz, procure um terapeuta urgente.

Precisamos nos conhecer melhor, e reconhecer que dentro de cada um de nós existe uma inteligência enorme, simples e natural que sabe exatamente o que fazer e aonde nos levar, algumas vezes esta inteligência se encontra latente, e só precisamos estimulá-la para que ela se desenvolva, é como um músculo, quanto mais você a exercita, mais forte ela se torna. 

Mas como exercitamos essa inteligência? Exercitamos nossa inteligência quando reclamamos menos e agradecemos mais, quando passamos a acolher as coisas que a vida nos dá, sejam elas boas ou ruins, sem bloqueios, sem preconceitos, sem julgamentos, precisamos entender que por trás de cada problema existe uma oportunidade, e essas oportunidades disfarçadas vão nos ajudar a nos conhecermos melhor e este autoconhecimento traz alguns incômodos e inquietudes, mas se aceitarmos e trabalharmos isso, vamos de fato nos amarmos mais, nos aceitarmos e esta aceitação é a via mestra para uma felicidade real.

"Felicidade não é o que acontece nossa vida, mas como nós elaboramos estes acontecimentos. A diferença entre o sábio e o ignorante é que o primeiro sabe aproveitar suas dificuldades para evoluir, enquanto o segundo se sente vítima de seus problemas." - Roberto Shinyashiki

Então decida hoje, decida agora, olhe pra si e diga... EU TENHO QUE SER FELIZ...


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Ponto final...

As vezes a vida não é do jeito que queremos, tão pouco do modo que planejamos, não sei se todos são assim, mas eu sou uma pessoa extremamente metódica e sistemática, gosto de tudo detalhado nos mínimos detalhes, gosto de traçar a rota a seguir, acho que porque tenho uma natureza digamos que um "pouco" controladora, gosto de ter as coisas sob meu domínio, definitivamente já fui muito mais controlador e neurótico do que sou hoje, mas ainda tenho muito o que melhorar.
A vida inteira a gente ouve as pessoas falarem que tudo tem um início, meio e fim, acho que no final das contas não gosto muito da palavra fim, sempre tive dificuldade em terminar algumas coisas, em fechar ciclos, em terminar relações, acho que talvez por medo do novo, por medo de lidar com o inesperado, acho que não só medo, mas a sensação de perda de controle das situações, me sinto um pouco menos dono de mim quando o trem sai do trilho, quando as coisas não acontecem da maneira que eu planejei, me frustro quando minhas expectativas não passam de expectativas.

Esse primeiro semestre eu digo que amadureci anos em meses, que aprendi mais sobre em mim alguns meses do que aprendi em 3 décadas, sim 3 décadas, vivendo de maneira controlada, rígida e minimamente planejada. Acho que a vida me ensinou a ser um pouco assim, a cobrar demais, a não desistir nunca, a ir em frente e atropelar tudo que estiver no caminho, inclusive a mim mesmo. Nas minhas sessões de terapia este foi um tema recorrente, minha terapeuta sempre me pergunta "Você sabe qual é o seu limite?" ... hoje eu sei qual é o meu limite, até onde eu posso ir sem fazer mal a mim mesmo. 

Acho que passei a vida inteira me desrespeitando, me mutilando, ultrapassando meus limites, não aceitando a perda, a dor e o fim. Tive momentos bem difíceis na minha vida, uma mãe que amo muito, que me ensinou muito, mas que nunca olhou nos meus olhos e disse um "eu te amo", uma mãe que nunca me deu um abraço, acredito que porque ela nunca teve isso, e quando não temos não temos dar, ela teve uma infância dura, irmã mais velha de mais de 10 irmãos, ela teve de ser mãe, dona de casa, mulher de trabalho, tudo muito cedo, ela tinha que matar muitos leões todos os dias durante sua infância, muitos dragões para construir e manter uma família, mas ela assim como eu tem dificuldade em encarar o fim, e entender que o tempo de lutar e matar seus monstros acabou, ela nunca entendeu que ela podia baixar a guarda, ela não se deu o direito de relaxar, parar e descansar, acho que se ela tivesse a guarda eu hoje seria um pessoa muito diferente do que sou hoje.

Fora isso, minha infância não foi das melhores, ainda criança sofri abuso sexual por um primo 10 anos mais velho do que eu, e isso perdurou por anos, e quando meu pai descobriu, eu ainda fui culpado, apanhei uma única vez do meu pai, não lembro a idade exata que tinha, mas sei que era menos de 6 anos, pois foi antes de estar na pré-escola, acho que foi uma época tão ruim pra mim que não lembro de muitas coisas, minha mente foi tão boa comigo que não lembro das vezes que fui abusado, tenho lampejos somente, mas lembro da reação do meu pai, lembro dele ter dado um soco na minha boca, de eu ter sido lançado contra o armário do meu quarto e lembro do calor do sangue escorrendo pela minha boca, mas não lembro da dor, porque eu acho que mais do que a dor, o que eu senti foi um sentimento de rejeição, é muito duro você se ver sem um porto seguro, você buscar proteção e socorro e não encontrar, isso sim dói, a rejeição não corta, ela dilacera a alma é te quebra em milhões de pedaços que a impressão que se tem é de que você nunca vai juntar esses pedaços.. nunca...

Sei que foi antes dos seis anos, porque quando eu tinha seis anos, minha única referência de amor foi tirada de mim sem compaixão nenhuma, simplesmente sem nenhum prévio aviso, foi assim e pronto, arrancada da minha vida sem pedir licença, minha madrinha tão amada que consigo fechar os olhos e lembrar do sorriso dela, dos abraços, das brincadeiras, se me concentrar um pouco mais consigo até lembrar do cheiro tão bom que ela tinha, minha madrinha tão amada que nem tive a chance de abraçar e dizer "eu te amo" antes dela ir. Mas a vida é assim, nem sempre do modo que queremos, e o câncer veio e a levou de mim, lembro ainda como se fosse hoje quando eu na minha inocência perguntei pra ela o porque ela estava careca, e ela com um sorriso cheio de luz disse que havia pintado os cabelos de rosa e não tinha dado certo e os cabelos haviam caído todos, pensei comigo "uau... que madrinha badass que eu tenho"... e ela virou minha super heroína, mas ela teve que ir embora, mas o amor dela era tão grande que mesmo no leito do hospital ela quis se despedir de mim e pediu pra minha mãe me levar no hospital porque ela sabia que nunca mais iria voltar pra casa, mas não pude entrar por causa da minha idade, e ela pediu pra minha mãe me colocar na calçada de frente com a janela do quarto dela, e foi assim, a última vez que senti o amor na minha infância.

Acho que devido a isso eu sempre busquei aprovação dos meus pais, sempre fiz o meu máximo na esperança de ouvir o tão esperado "eu te amo", ou aquele abraço apertado que via as outras crianças ganharem, eu era uma criança, não entendia das coisas da vida e pensava comigo "se meus amigos aprontam, vão mal na escola e mesmo assim ganham afeto dos seus pais, se eu for melhor do que eles com certeza eu vou também ganhar esse tal de afeto", e assim fiz eu, aprendi a ler e escrever muito antes que qualquer outra criança da minha turma, acho que amo tanto os meus professores e lembro deles com tanta clareza porque eles sempre me elogiavam, eles sempre reconheciam o meu esforço, lembro como se fosse hoje uma professora em uma reunião falando que minha mãe deveria correr atrás para me adiantarem um ano na escola, porque eu já era alfabetizado enquanto outras crianças ainda estavam desenvolvendo a percepção motora e conceitual.  Lembro da minha professora de todos os anos seguintes,  em toda minha formação no ensino fundamental não me lembro o que foi tirar uma nota que fosse diferente de "A" o equivalente ao "10" hoje em dia.

Acho que por essa minha busca desenfreada por afeto e reconhecimento, sempre fui uma criança mais sensível, então imagine só, além de negro, CDF eu ainda era o "viadinho" da turma, então minha infância não foi flores, aprendi desde muito cedo a disfarçar a tristeza com um sorriso amarelo no rosto, aprendi a não demonstrar fraquezas, porque se você demonstra fraqueza as pessoas vão se aproveitar dela uma hora ou outra, aprendi a guardar os meus segredos até de mim mesmo, sempre fui uma pessoa que era amigo de todos, que todos chamavam para brincar, que vinham contar os segredos e pedir conselhos, mas eu nunca encontrei em ninguém esse tipo de pessoa naquela época, me fechei no meu mundinho e ali vivi durante anos, dos meus escombros ergui uma muralha, e assim nasceu e cresceu o meu eu inatingível.

E assim foi durante toda minha adolescência, quando entrei no ensino médio, mudei um pouco meu comportamento, deixei de ser tão sensível e comecei a me expor mais, aprendi a brigar, aprendi a ser mais rebelde, tenho um senso de justiça muito latente, não gosto de ver alguém maltratando outra pessoa, não gosto de injustiça, de discriminação, porque eu sei o quanto isso dói então na adolescência acabei me tornando um rebelde, mas um rebelde com "causa", acabei aos poucos descobrindo minha voz, na verdade acabei descobrindo que eu tinha uma voz e que essa voz podia ser ouvida pelas outras pessoas e que essa voz podia fazer a diferença para alguém, mesmo que fosse pequena, mas ela podia fazer a diferença e quando entrei na minha vida adulta, decidi fazer um trabalho voluntário de 02 anos para a igreja que frequentava. 

Estava decidido, queria dedicar dois anos da minha vida dando aquilo que eu mais queria pra mim, atenção, amor e esperança, então decidi conversar com minha mãe - meu pai nunca foi uma figura muito impositiva dentro de casa - e sabia que a conversa não ia ser das mais agradáveis, porque não estava nos planos dela eu "perder" dois anos da minha vida em um lugar que nem eu mesmo sabia onde iria conversando com estranhos, mas como eu já tinha voz, eu fiz minha voz ser ouvida e mantive minha opinião, como disse no começo, a vida me ensinou a passar por cima das coisas que estão na minha frente e assim foi, alguns meses de preparação e lá estava eu, deixando minha casa e indo rumo ao desconhecido, lembro que quando minha mãe veio se despedir de mim ela não me abraçou, não me disse que me amava, ou coisa do tipo, ela olhou bem fundo nos meus olhos e disse "Você está indo, então não volte antes dos dois anos, vá e fique até o fim... vá com Deus" e foi assim nossa despedida e eu fui.

Foram dois anos sensacionais, convivendo com pessoas diferentes, nacionalidades diferentes, histórias e problemas diferentes, e foi desses dois anos que nasceu em minha uma esperança inabalável nas pessoas, a certeza de que as pessoas mudam e mais do que isso, que elas podem mudar para melhor, nesses dois anos eu vi milagres acontecerem, experiências tão sagradas pra mim que se um dia eu escrever, precisa ser em uma outra ocasião... fiz amigos que trago comigo até hoje, acredito que esses dois anos serviram pra eu deixar de buscar tanto afeto e começar a distribuir mais, talvez minha vocação não seja colher, mas sim plantar, e plantei muito e colho os frutos disso até hoje, e nesses dois anos eu me destaquei, fui o melhor voluntário, o que mais fazia contato com as pessoas, o que mais levava pessoas para a igreja, pelo menos minha busca pela perfeição ajudou nisso, a ajudar outras pessoas, mas os dois se passaram e tive que voltar pra casa, voltei pensando que iria mudar o mundo, mas não mudei, porque mesmo passando por toda essa experiência eu não havia mudado a mim mesmo ainda, e é clichê, mas é a mais pura verdade "o mundo muda, quando você muda". 

Não vou dizer que não mudei, porque mudei muita coisa, mudei o jeito de enxergar o mundo, me tornei uma pessoa mais compassiva, mas como eu disse eu mudei o jeito de enxergar o mundo, mas não havia mudado a maneira de enxergar a mim mesmo, e a gente só muda quando consegue se enxergar, se analisar, se conhecer melhor, e isso eu não tinha feito ainda, iria levar anos até eu começar a me conhecer de fato, porque nesse período ainda continuei a lutar comigo mesmo, porque eu ainda tinha que ser o melhor em tudo.

Depois desse período eu conclui minha primeira faculdade, iniciei uma segunda, me pós graduei, cresci profissionalmente, com muito suor, sempre ansiei por mais, mais conhecimento, mais crescimento, mais dinheiro, mais reconhecimento, afinal eu fui criado para ser o melhor em tudo, pra mim não existia prêmio para o segundo lugar, tudo que fosse diferente do primeiro lugar para mim não me trazia nenhum tipo de motivação ou felicidade, pelo contrário, era um sentimento de frustração de não poder estar no topo do pódium e foi assim, eu tracei um plano pra mim e fui fazendo tudo o que precisava pra chegar lá, de maneira honesta, mas fazia literalmente tudo o que tinha que ser feito, sou um profissional extremamente competente e também competitivo e com isso fui crescendo, e eu fui subindo degrau por degrau, e quando via que não tinha mais para onde subir eu procurava algum outro lugar onde existissem mais degraus, lembro dessa época em que chegava em casa meia-noite da faculdade, dormia por volta da uma da manhã e acordava por volta das quatro, quatro e meia para ir trabalhar, e se alguém me perguntar se eu me arrependo disso, eu respondo "de maneira alguma", porque hoje eu vejo que consegui boa parte do que queria, boa parte do que havia planejado pra mim.

Lembro que logo que comecei a trabalhar minha meta era trabalhar no prédio azul espelhado que existe na rodovia próximo a minha casa, sempre que passava e olhava aquele prédio imponente eu falava pra mim mesmo que iria trabalhar ali, mas não foi assim, fui trabalhar em outra cidade, fui trabalhar no lugar mai imponente do Brasil, no coração da vida financeira deste país, fui trabalhar na Avenida Paulista em uma empresa muito bacana, mas passado alguns anos eu recebo um telefonema de uma agência falando que tinham uma vaga na tal empresa do prédio azul de vidro espelhado, e lá fui eu, fiz a entrevista, passei sem problema algum e comecei a trabalhar, na época não era só o prédio da empresa que era imponente, a empresa em si era uma empresa imponente, crescendo no mercado, se estruturando, com planos e horizontes que faziam os olhos de qualquer profissional brilhar, mas de novo, nem tudo são flores, na época tinha um gerente que se apoiou em mim, ele não era uma pessoa ruim, mas era uma pessoa que não conhecia o que estava fazendo e  tirava mérito do meu trabalho, além de eu fazer o meu trabalho, acabava fazendo o meu o dele e o de outras pessoas do departamento, porque ele passava pra mim, porque confiava na minha execução.

E tudo isso foi dando frutos, tive em um ano três promoções, no ano seguinte mais duas, no terceiro ano fui promovido a coordenador, mas isso teve um preço, estava em frangalhos, em cacos, não tinha uma vida fora da empresa, não suportava mais trabalhar naquele ritmo, olha pro meu gerente e minha vontade era voar no pescoço dele, até que um dia eu cheguei no meu limite e senti que ia entrar em pane, então procurei uma terapeuta e digo que essa minha terapeuta é um anjo, ela me leu e me decifrou, e nesses anos de terapia ela sempre disse que eu precisava sair daquela empresa, que eu precisava respeitar meus limites, que eu estava me mutilando emocionalmente, ela sempre dizia que a minha capacidade de me adaptar à pessoas e situações sempre me ajudou a me manter são e alcançar as coisas que eu queria, mas como tudo na vida, tudo tem um limite e eu não enxergava esse limite e continuei. Meu gerente não aguentou a pressão, as mudanças e a situação ruim que a empresa estava passando e saiu do barco, então sem pensarem duas vezes me colocaram na posição que era dele, mas daí pra frente a empresa mudou, "testaram" diversos diretores para salvarem a empresa para ela não cair do penhasco que estava frente a ela, e a cada novo diretor uma nova cultura, um novo modo de se pensar e de se trabalhar e isso começou a mexer com a minha cabeça, e esse sempre foi um assunto recorrente em minhas sessões, a necessidade de eu sair de lá, eu não tinha mais que provar nada para ninguém, até o ano passado eu já tinha passado por 07 diretorias diferentes e todas elas me conheciam e admiravam meu trabalho, mas na minha sede por mais, ou por meu medo de fechar ciclos eu estava lá, buscando mais, insistindo e persistindo, até que colocaram um diretor que queria que eu fizesse coisas ilícitas, mas como meus valores vem em antes das minhas ambições, minha resposta foi não, e a partir deste não minha vida virou um inferno, humilhações, perseguições e por ai vai.

Mas acho que inconscientemente eu continuei porque sair de lá era como desistir, eu me construi naquele lugar, na minha cabeça aquele era meu território e numa guerra não se abre mão do território, mas quem disse que eu estava em uma guerra? Guerra com quem? Guerra pelo que? Mas antes de eu chegar nessas respostas eu surtei, entrei em depressão, e me afundei, a sensação que eu tinha é de que tudo que eu tinha passado desde a minha infância tinha sido em vão, a sensação que eu tinha era de fracasso, por não ter aguento mais... mas com a ajuda desse meu anjo, hoje eu digo que mudei, porque aprendi muito com essa situação, sofri igual o cão como você pode ler nos textos que escrevi antes desse, pensei que não tinha mais luz no fim do túnel, queria que tudo acabasse, que o caos que era minha vida acabasse, mas graças a Deus não acabou... o que acabou foi um ciclo, o que mudou foi a página, esta história teve um início, um meio e fim e agora o recomeço.

Mas engana-se quem pensa que toda história tem um final feliz, isso só acontece em contos de fadas, as histórias não precisam terminar feliz, as histórias precisam terminar em aprendizado, as histórias precisam terminar, o ciclo se encerra para o começo de um novo e assim que a vida segue, novas histórias, novos tombos, novos passos, novas conquistas, quando encerramos um ciclo, conseguimos olhar mais a fundo nossa vida, conseguimos dar atenção para pontos que antes não conseguíamos enxergar, ou que muitas vezes não queríamos enxergar para não termos "mais um" problema para resolver. Encerrei um ciclo, virei uma página e agora tenho um novo capítulo pela frente.

E a única coisa que eu posso dizer é que o essencial não é vencer sempre, não é ser o número 1 em tudo, não é buscar insanamente por aprovação ou por amor, o essencial é aprender e ser, aprender  com a vitória e com a derrota e ser, mas ser o que? Ser feliz e ponto final.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Um brinde a nós... os anormais...

Há uns anos atrás eu escrevi um texto chamado "Cansado desta falsa moral", e hoje acho que não estou mais cansado, estou com medo dessa falsa moral, vejo uma legião de reacionários espalhados pela sociedade, disfarçados sob a fantasia de donas de casas exemplares, bons pais de famílias, homens e mulheres de sucesso, jovens engajados em promover a moral e os bons costumes, encontramos reacionários nas escolas, nas universidades, nas favelas e nas mansões, na política e na religião.

Cuidado, eles estão em todos os cantos, estão a espreita prontos para fazer você engolir a sua pseudo-verdade goela a baixo, sem lhe dar o privilégio de tomar ao menos um copo d'água para ajudar essa "verdade" as vezes indigesta descer... eles falam que a verdade liberta, que essa verdade escrita em um livro milenar, que passou por diversas mãos, que foi adulterado e corrompido, essa verdade tão "pura" liberta, muda e transforma... e aí de você se ousar discordar de tal verdade, aí de você, você vai ser considerado um herege, um anormal, uma abominação, pelo simples fato de não se encaixar na forma da tal verdade libertadora.

Digo que hoje sinto medo da falsa moral, porque hoje eu me senti há centenas de anos atrás na época da inquisição, onde as pessoas não tinham a liberdade de se expressar, se você usava de ervas para cura, era bruxo, se tinha qualquer crença que não fosse o cristianismo, mais especificamente o catolicismo era herege, era condenado por adorar outros deuses, uma mulher se ousasse pensar em qualquer movimento feminista era obra do demônio, e eram queimados vivos, como um aviso aos outros do quão  importante é se encaixar dentro da forma, da equação perfeita que leva a liberdade que é o dogmatismo religioso, carnificina disfarçada de boa ação, torturas em nome de um Deus vingativo e intolerante.

O Deus que acredito é um Deus diferente do que vejo por aí, não é um Deus que mantém seus filhos debaixo de suas asas pelo medo, mas é um Deus que acolhe à todos pelo amor, não é um Deus que julga, é um Deus que liberta, não é um Deus que oprime e humilha é um Deus que apóia e sustenta, minha imagem de Deus não é uma imagem de tirânia, mas sim de bondade, é isso que faz sentido para mim. Respeito a religiosidade das pessoas, ela é a base para muitas pessoas, ela promove caridade, ela realmente opera mudanças significativas nas vidas das pessoas, mas acho que tudo tem um certo limite, tem uma linha muito tênue que separa a espiritualidade do fanatismo.

Teve duas situações hoje que fez com que essa minha revolta aflorasse, primeiro eu olhando a timeline do meu facebook vi um post falando que a boticário estava sofrendo boicote devido à sua campanha do Dias dos Namorados, como não assisto muito à televisão aberta, não tinha visto o tão comentado comercial, cliquei no link e li a matéria e na matéria tinha um vídeo, onde algumas pessoas aleatórias se preparavam para comemorarem o dia dos namorados com seus respectivos namorados(as), e quando eles chegavam na porta dos namorados, conhecemos os casais, um casal hétero, um casal de gays e um casal de lésbicas, que trocam um singelo abraço ao abrirem as portas... um simples abraço... Alguém pode me explicar que mal há nisso? Como esse abraço pode destruir a família brasileira? Alguém me diz... alguém por favor me explica...



Um abraço é mais ofensivo que o preconceito? Um abraço? Comecei a ler os comentários e fiquei me questionando se realmente estamos em 2015, se realmente estamos na era da informação, porque me senti na época dos meus bisavôs onde as pessoas as vezes tinham uma postura retrógrada e reacionária devido a escassez de informação, mas hoje? Hoje não... Eu lembro do comentário falando que o Boticário estava destruindo a família brasileira, outras coisas destroem famílias, mas pode ter certeza que nunca vai ser um abraço. Antes tivéssemos mais abraços dentro dos lares, tenho certeza que teríamos um número menor de pessoas infelizes e mal resolvidas que gastam seu tempo oprimindo e denigrindo ao invés de suportar quem precisa e fazer essa sociedade, melhor em vias de fato.

Depois dessa matéria, rolei mais um pouco a minha barra e "boom", outro post bombástico, Bruce Jenner, um senhor de 65 anos, dois ou três casamentos, filhos e netos, medalhista olímpico, posou para uma capa de uma revista feminina super conceituada - Vanity Fair - e anuncia ao mundo que a partir de agora passa a se chamar Caitlyn Jenner, e Caitlyn estava de maiô, pior que isso, Caitlyn tinha próteses de silicone, e mais, estava maquiada, foi o combo perfeito para a legião de reacionários se manifestarem e exporem a sua "opinião" sobre o assunto: ..."aberração", "...parece um monstro deste jeito", "... isto vai contra às leis de Deus", "... pode fazer o que quiser com o corpo, mas a sua alma é uma alma de homem, está no DNA", "... esse vai direto para o inferno", "... depois de velho vem com essa sem vergonhice"... Mais uma vez os juízes de Deus estão dando seu veredicto, são todos conhecedores das leis de Deus de cabo a rabo, de A a Z, acredito eu que alguns até já tiveram um papo cara a cara com Ele, para afirmarem algumas coisas com tanta veemência.

O mais engraçado, na verdade não é engraçado, mas o mais revoltante é que estes reacionários, dizem que em nenhum momento estão sendo preconceituosos, estão simplesmente expondo sua opinião. Uhum... opinião... e agora é a parte engraçada, se você vai e comenta qualquer coisa que não seja a favor da "opinião" reacionária dessa massa acéfala, você está desrespeitando, está desafiando à Deus... mais uma vez "lobos em pele de cordeiro"... aonde que está escrito isso mesmo? Aaaa na Bíblia, isso mesmo, na Bíblia.

Amo meus amigos religiosos, amo e sou grato à toda a formação religiosa que tive, mas eu nunca vou aceitar alguém usar o nome de Deus para humilhar outra pessoa, fico imaginando como deve ter sido difícil esses 65 anos de Caitlyn, vivendo uma vida que não era dela, décadas e décadas lutando contra seu impulso natural, sustentando uma vida de mentiras, se vendo obrigada a mentir para si mesmo e para as pessoas que ama, mas ela teve coragem de mudar a sua história, de viver de verdade a sua vida e ser quem ela é de fato, ela resolveu ser livre, e eu pergunto: Que mal há nisto? Que mal há em um ser humano querer ser feliz? Ela não está prejudicando ninguém... Na minha cabeça, só consigo chegar à conclusão de que pessoas que gastam seu tempo destruindo outras, devem ter uma vida no mínimo medíocre, e não conseguem suportar um sorriso de felicidade verdadeira, ou um abraço de amor... Deus falou tanto de amor, amar o próximo, respeitar o próximo, estender a mão... mas hoje em dia, grande parte dos religiosos  fazem o contrário, disseminam o ódio e a intolerância em nome dessa falsa moral que envenena nossa sociedade.

Nesse caso da Caitlyn Jenner fiquei muito revoltado, porque eu tenho uma amiga muito querida que é trans, e para mim ela é uma mulher, uma mulher linda, inteligente e honesta e merece ser respeitada como todos merecem, fiquei pensando muito nela antes de escrever este texto e termino ele com uma admiração maior ainda por ela, por ser ela mesma, por não se deixar limitar pelos dogmas da sociedade, por simplesmente ser livre...  Espero estar vivo para ver o ódio e a intolerância darem espaço ao amor e compreensão, e onde as pessoas possam ser de fato livres para serem elas mesmas. 

E um brinde a nós... os anormais...





segunda-feira, 25 de maio de 2015

Livre...

Na madrugada de hoje tive um episódio de insônia, e decidi ver um filme, afinal como já tinha perdido o sono, não queria perder meu tempo na cama virando de um lado para o outro, então resolvi aproveitar o tempo e assistir um filme, e resolvi assistir "Livre" que no título original se chama "Wild", traduzindo para o português Selvagem, e de antemão já digo que o filme é sensacional.

O filme é baseado em um livro de mesmo nome que conta a experiência da autora Cheryl Strayed, que aos 22 anos perdeu sua mãe e após essa perda, ela mesma se perdeu, vivendo um casamento cheio de traições, sexo com estranhos, aborto e o vício em heroína, até que ela resolve se  reencontrar e decide fazer uma caminhada cruzando os Estados Unidos, iniciando a trajetória na fronteira com o México e terminando na fronteira com o Canadá. No filme Cheryl é interprentada por Reese Whiterspoon, que já tinha provado que seu talento vai muito além da comédia, no drama Johnny e June, o filme me fez refletir muito, um daqueles filmes que você assiste e quando termina seu espírito está renovado.

Então vamos lá, depois que Cheryl perdeu sua mãe, que era sua referência, seu porto seguro, ela se viu perdida e sem forças e como escrevi no parágrafo anterior se afundou em em um processo de autodestruição, acredito que ela tenha se afundado nesse mundo porque ela era tão emocionalmente dependente da mãe que mesmo aos 22 anos ela não havia criado uma personalidade própria, nunca teve uma relação real consigo mesmo, trocando em miúdos ela não se conhecia, e quando se viu sem seu ponto de referência se viu sem nada, e o sentimento de não ter nada e não ser nada é um dos piores que podemos sentir, mas ela teve a sorte de ter alguém que não desistiu dela, e a resgatou, mas isso não era o suficiente, a gente não pode passar nossa vida toda esperando que alguém venha ou nos salve, não podemos condicionar nossas escolhas, nosso destino à terceiros, precisamos ser donos de nós mesmos e foi nessa busca de ser dona de si própria que Cheryl partiu para essa caminhada cruzando os Estados Unidos, 03 longos meses para se conhecer.

O que Cheryl sabia sobre longas caminhadas? Nada! Mas ela sabia que as vezes para aprender não adianta somente lermos os manuais, é preciso testar na prática, a vida real é assim, tentativa e erro, um passo após o outro e assim foi com ela, e durante a caminhada ela foi experimentando diversos sentimentos e situações que somente uma caminhada como aquela poderia lhe proporcionar, o medo de estar no meio do nada sozinho cercada por possíveis ameaças, as dores que caminhar em média 20 km por dia com um peso surreal nas costas com uma bota apertada pode causar, a necessidade de se livrar do peso desnecessário para continuar, a experiência de conhecer novas pessoas e ver que existem um pouco de maldade pelo caminho, mas uma imensidão de bondade por onde a gente passa e muitas vezes nem notamos, mas acredito que estas coisas não necessariamente precisamos fazer uma caminhada de 03 meses para descobrir, mas somente prestarmos mais atenção no nosso dia a dia.

Mas mais do que todas as experiências e situações que falei, ela teve que enfrentar o maior dos meus medos em particular, a solidão, e eu acho que eu tenho tanto medo da solidão porque sou um pouco como ela, muito dependentes das outras pessoas, e a solidão na minha concepção é o maior desafio que podemos enfrentar porque no fim das contas não podemos fugir de nós mesmos, confesso que depois de assistir o filme comecei a enxergar a solidão de outra maneira, as vezes ela é necessária, para entrarmos em um contato mais profundo conosco, porque na correria do dia a dia acabamos não tendo tempo desse contato mais intimo, enganamos a solidão com as diversas possibilidades que o mundo moderno nos proporciona e escondemos nossos erros e as partes de nós que não gostamos debaixo do tapete e seguimos a vida, e o filme mostra que não adianta seguir por esse caminho, a gente só muda quando tocamos na ferida, quando tiramos a sujeira de baixo do tapete, quando enfrentamos nossos fantasmas.

Mais do que enfrentar, ficou  bem claro que existem coisas que temos que aceitar, o que foi feito não pode ser desfeito, não existe uma máquina do tempo para que possamos voltar e mudar o que fizemos, e na verdade não precisamos mudar o que fizemos, porque no final das contas de um modo ou de outro nossas cagadas fazem parte de quem somos, e de novo, não tem como fugir de si próprio, faz parte do nosso eu, precisamos desta solidão para vermos e analisarmos de forma cuidadosa nossa vida, aceitarmos nosso passado, exorcizarmos nossos demônios, e seguir em frente, na caminhada constante os músculos se fortalecem e nosso corpo se adapta para podermos concluirmos a caminhada, mas somente se continuarmos se pararmos a inércia toma conta de nossa vida, então esse é o segredo olhar para si, aceitar quem você é, se perdoar pelo que você possa ter feito e seguir em frente, porque não existe força mais selvagem, indomável e libertadora que o autoconhecimento.

E como ela escreveu no caderno de anotações no início da caminhada, citando Emily Dickinson "Se sua coragem sumir, vá além da coragem" ... resumindo... vá!

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Descobrir...

Pensar, pensar e repensar... acho que passei o tempo necessário fazendo este exercício e esse exercício de reflexão foi essencial e me fez descobrir tantas coisas:
Descobrir que a felicidade plena não existe, o mundo é feito de opostos, de extremos distintos, não reconheceríamos o doce se não existe o seu contraponto o amargo, e assim é com a felicidade, só a valorizamos de fato depois que provamos a tristeza, só sorrimos com a alma, quando nossos olhos já gastaram todas as lágrimas da mais vil tristeza.

Descobri que a tristeza, a dor não mata, ela te fortalece, mas somente se você não se render a dor, mas sim aceitá-la, extrair dela a lição que precisa ser aprendida e depois seguir em frente e cuidar de si, não existe dor ou tristeza que seja mais forte do que o poder do autoconhecimento e do amor próprio.

Descobri que os amigos são poucos, mas também descobri que definitivamente a qualidade é melhor que a quantidade, não tenho a quantidade de amigos que pensei que tinha, mas os que eu tenho e que hoje posso chamar de amigos, sei que estão comigo no pior e no melhor, e no final das contas é isso que vale a pena.

Descobri que ser traído dói, mas que perdoar conforta, a mágoa definitivamente só faz mal para quem a carrega, e nessa vida não leva a pena levar bagagem desnecessária, o mundo dá voltas e o tempo se encarrega de colocar tudo no seu lugar.

Descobri que se existe um sentimento libertador, esse sentimento é o perdão, perdoar não é esperar alguém vir até você e pedir perdão, perdoar assim é muito fácil, perdoar é você perdoar mesmo quando a outra pessoa não reconhece seu erro, e até mesmo quando ela insiste nele, essa é realmente a essência do perdão, ele não é um sentimento bilateral, ele é unilateral, algo seu com você mesmo, perdoar liberta, perdoar os outros e principalmente a si mesmo, deixar de se culpar pelo passado, pelo que fez ou pelo que deixou de fazer, perdoar é preciso para seguir em frente.

Descobri que ninguém pode seguir uma viagem longa carregando consigo muito peso, levar o essencial é preciso, assim como deixar para trás tudo aquilo que não nos faz bem ou não nos é útil, afinal precisamos de espaço para guardarmos os presentes que o presente nos dá dia após dia.

Descobri que Deus, não está em uma placa de igreja, mas sim em todo lugar, pronto pra ouvir e pronto pra ajudar quando a gente se dispõe a fazermos nossa parte, afinal tudo nessa vida é uma via de mão dupla, não podemos esperar que nada caia do céu, porque definitivamente nada vai cair do céu ou vir de graça, só consegue as coisas quem acredita e luta para fazer as coisas acontecerem.

Descobri que quando passamos por uma experiência tão dura como uma depressão, nunca mais vamos ser os mesmos, deixamos de ser quem éramos e nos tornamos alguém diferente, ou uma pessoa muito frágil ou muito mais forte, assim mesmo, sem meio termo, mas essa consequência não é aleatória, ela é uma escolha, e eu particularmente escolhi me tornar alguém muito mais forte.

Depois de tudo  que passou consigo enxergar a vida de outra maneira, dar mais valor ao tanto que tenho, mudei muito, e hoje sei que a gente não conhece a nossa capacidade de resistir, de lutar e principalmente de vencer... essa é a nossa essência, nascemos para sermos felizes, para sermos vencedores, mas ninguém pode ser vencedor se não existir uma batalha a ser lutada, eu venci a batalha que vinha travando, mas não subestimo meu adversário, muito pelo contrário, sou grato a ele por me forçar a descobrir o meu potencial e a força que não sabia que tinha dentro de mim.

Poderia passar horas aqui as lições que aprendi nesses meses escuros, mas o sono que há muito tempo não vinha de forma natural me impede, mas posso falar com conhecimento de causa que a escuridão não dura para sempre, que quando a gente menos espera o sol volta a brilhar e devido aos dias escuros a gente aprende a valorizar mais a luz, e também a conviver com a escuridão de vez em quando, afinal uma não existe sem a outra.



sábado, 2 de maio de 2015

Grey's Anatomy

Dentre muitas paixões que tenho uma delas é assistir filmes e séries, li há um tempo atrás que  foi feito um estudo por três pesquisadores do Texas, onde estes cientistas observaram o comportamento de 316 jovens entre 18 e 29 anos, e concluíram que assistir séries continuamente, quando você embala um episódio após o outro é sinal de depressão e solidão.

Hoje em dia graças aos serviços de stream em especial a minha amada Netflix, as famosas maratonas de séries se tornam cada vez mais comuns uma vez que temos a nossa disposição diversas séries e temporadas inteiras para assistirmos a hora que bem entendermos, e como não é segredo nos últimos meses eu andei muito depressivo e solitário, e reforçando o estudo que citei há pouco, minha fuga era deitar no meu sofá e assistir séries, e minha maior companheira foi a maravilhosa Grey's Anatomy, que já possuía 10 temporadas na Netflix, e assim foi, um episódio atrás do outro, tomando como base que cada episodio tem em média 45 minutos de duração, e cada temporada uma média de 22 episódios, fazendo as contas por cima, isso daria em torno de 165 horas eu acredito, e nessas 165 horas confesso que me apaixonei e me identifiquei por cada episódio.

A série foi criada por Shonda Rhimes, que foi carinhosamente apelidada pelos fãs da série de Shondanás, porque em alguns momentos ela é extremamente cruel, e acho que foi esse o ponto que fez com que eu me apaixonasse pela série, ela escreve sobre situações reais, sobre encontros, desencontros, desastres, dores, alegrias, famílias, sofrimento e ela o principal é que na série estes sentimentos não são exclusividades dos mocinhos ou dos vilãos, se é que existe algum vilão, mas a série mostra que não importa o quão bom somos, no seriado todos os personagens são médicos e seu trabalho é salvar vidas, não importa as boas ações que faça, o mundo vai te fazer provar o doce e o amargo, o mundo vai te fazer conhecer o melhor e também o pior, e quando você conhece o pior você tem duas opções, se render ou seguir em frente.

E acho que uma das coisas que tem feito com que eu melhore é exatamente isso, enxergar que independente do que aconteça sempre existe um recomeço, sempre existe a volta por cima. Atualmente está passando a 11ª temporada da série e o inesperado aconteceu, e Shonda fez a maior de todas as suas crueldades nesses 10 anos de série, para quem acompanha a série sabe que a história gira em torno de dois médicos Meredith Grey e Derek Sheperd, que viveram a mais linda história de amor entre indas e vindas e desastres e mais desastres, mas continuaram juntos e fazendo com quem assistisse ainda acreditasse que o amor verdadeiro existe, eles definitivamente eram o casal perfeito, e o que aconteceu? Derek morreu da forma mais estúpida possível, deixando Meredith viúva, com dois filhos e grávida, desgraça pouca é bobagem, mas o mais interessante foi ver que ela precisou ser forte, porque ela acreditava que existia uma maneira de se começar de novo.

E a vida nada mais é do que isso, começar de novo a cada dia, encontrar uma maneira de deixar alguns fantasmas para trás e seguir em frente, seja na alegria e principalmente na dor.