segunda-feira, 27 de junho de 2016

E os erros, são de quem?

Relacionamentos são tão complexos, são duas pessoas com histórias de vida, interpretações, posicionamentos e perspectivas diferentes, tentando fazer com que essa dinâmica improvável funcione e tome um direcionamento singular, conduzindo os dois para o mesmo lugar, mas durante esse rearranjo é normal que surjam os atritos, e o atrito é algo que não temos como fugir, afinal sem a força de atrito não teríamos se quer apoio para ficarmos de pé.

Se o atrito é tão necessário porque fugimos dele com tanta frequência? Alguns vão dizer que é por causa do medo de machucar e ser machucado, outros vão dizer que é medo de reconhecer uma co-dependência no relacionamento, mas eu acho que o grande problema é que o atrito ou faz com que apontemos o dedo para ou outro ou para nós mesmos, e como apontar o dedo para o outro sempre é mais fácil acabamos sempre optando por esta opção, e quando fazemos isso nos afastamos de quem deveria estar perto, nos colocamos num degrau mais alto e começamos a olhar o outro de cima, e quando isso acontece, normalmente o relacionamento está fadado ao fracasso.

Ouvi uma música do Legião Urbana que me fez pensar sobre isso, sobre essa dinâmica, de expressar aquilo que incomoda no outro, mas também de saber se colocar nos sapatos do outros e conseguir enxergar em si mesmo os defeitos que carregamos, que são nossos, mas acabam por afetar o outro, na música acredito eu que ele esteja falando sobre traição, mas acho que tem um significado muito profundo do que uma mulher que traia o companheiro fazendo sexo por telefone, a música ela fala sobre aceitarmos nossa responsabilidade dentro de um relacionamento, cada qual tem seu papel e sua responsabilidade por fazer essa dinâmica maluca funcionar, e quando algo dá errado a culpa sempre é dos dois, não acredito que relacionamento seja co-dependência mas sim uma co-responsabilidade, como ele diz na música "Palavras são erros e os erros são seus, não quero lembrar que eu erro também"... Coloquei abaixo algumas interpretações minha sobre a letra da música:


"Sexo verbal
Não faz meu estilo
Palavras são erros

E os erros são seus… "

Aqui ele está falando sobre sexo ao telefone, como vamos ver mais pra frente nos próximos versos da música, mas eu enxergo isso como palavras, ficar nessa onda de transar com palavras, de agradar com palavras, não faz o estilo do eu lírico, ele prefere ação à palavras, e ao ver que o relacionamento está sendo fundamentado em palavras ele se apressa em apontar o erro da outra parte.

"...Não quero lembrar

Que eu erro também
Um dia pretendo
Tentar descobrir
Porque é mais forte
Quem sabe mentir
Não quero lembrar
Que eu minto também…"

Sendo imperfeito e orgulhoso, ele insiste em não querer lembrar que do mesmo modo que outro erra ele também erra. 
Ele diz que pretende descobrir porque é mais forte quem sabe mentir, acredito eu que ele quis dizer que quem mente pro outro, normalmente aparenta ser mais forte, porque quem mente destrói, quem mente machuca... mas ele continua não querendo enxergar que ele machuca também.

"...Eu sei! Eu sei!…"

Mas mesmo com toda essa negação de suas falhas o eu lírico sabe que ele também é falho, e que carrega com si um arsenal de defeitos.

"...Feche a porta do seu quarto

Porque se toca o telefone
Pode ser alguém
Com quem você quer falar
Por horas e horas e horas…"

Como eu falei a letra fala sobre traição, aqui é onde ele fala sobre a traição por telefone que ele presenciava e fingia não ver, fazendo uma analogia, quantas vezes o outro age de maneira que não gostamos e nos calamos pensando estarmos contribuindo para um relacionamento mais saudável quando na verdade estamos alimentando um câncer que vai matar o relacionamento pouco a pouco.

"... A noite acabou

Talvez tenhamos
Que fugir sem você
Mas não, não vá agora
Quero honras e promessas
Lembranças e histórias…"

Aqui nas duas primeiras linhas eu entendo que seja a outra parte falando para o eu lírico que o relacionamento acabou e que ela e o amante tenham que partir sem ele, e nas outras três o eu lírico falando das projeções de futuro que ele tinha sobre o relacionamento, que ele não quer o fim porque ele quer lembranças e histórias, mais uma vez ele nega, como nega seus erros, ele também nega que aquele relacionamento possa ter chegado no seu ponto final.

"...Somos pássaro novo

Longe do ninho
Eu sei! Eu sei!…"
E aqui na última estrofe é a única em que não existe uma negação, aqui ele deixa de transferir a culpa para a outra pessoa e aceita que a responsabilidade é dos dois, o singular dá lugar ao plural, e reconhecer isso pode ser um novo começo, seja no relacionamento atual ou em um relacionamento vindouro.
Acho tão forte quando ele diz - "...Somos pássaro novo, longe do ninho..." - porque é o que somos quando começamos um relacionamento, indefesos e fora de nossa zona de conforto, somos pequenos, não temos bagagem em comum, e é preciso muita humildade pra reconhecer isso e mais do que humildade, muita coragem para crescer, bater asas e sair do ninho.

Essa música hoje me veio como um tapa na cara, pois muitas vezes me vejo procurando os defeitos no outro e negando que eu tenha parte nos fracassos emocionais que tive em meus relacionamentos, os atritos são saudáveis a partir do momentos que ambos reconhecem suas limitações e sua importância para fazer o relacionamento funcionar.


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Meios ou inteiros?

Nascemos como seres frágeis, indefesos e totalmente dependentes de uma terceira pessoa para sobrevivermos, com o passar do tempo aprendemos a nos alimentar sozinhos, a andar com nossas próprias pernas, aprendemos a mantermos-nos vivos, mas será que se manter vivo significa que de fato estamos vivendo? Tenho pensado muito nisso, somos seres condicionados a criar expectativas,a depositarmos a responsabilidade por nossa felicidade e vida na mão de outro, podemos nos declarar independentes materialmente, mas quantos de nós pode falar que é independente emocionalmente?

A sociedade nos condiciona a pensar que parar sermos felizes de fato precisamos de outra pessoa ao nosso lado, precisamos encontrar a "metade da laranja", a "tampa da panela", aquele "tijolinho da construção", e nesse pensamento medíocre nos privamos de sermos felizes e por conta própria, e mais uma vez, voltamos a agir como aquele bebê frágil e indefeso e projetamos expectativas gigantescas em pessoas que não obrigadas a preencher lacunas e muito menos carregar um peso e uma responsabilidade que não é dela.

É normal que criemos expectativas, que tenhamos alguns modelos pré-definidos e que queiramos que eles se materializem e saiam do campo da imaginação e ser tornem reais, mas viver refém das expectativas que criamos chega a ser utópico, pois quando projetamos uma pessoa para nos relacionarmos projetamos somente as qualidades, seja para um amigo, um companheiro, um chefe, um colega de trabalho, seja quem for, esperamos somente as qualidades e esquecemos que a personalidade do ser humano e como uma colcha de retalhos, pedaços de qualidades e defeitos interligados, e é isso que nos torna seres únicos, os contrastes... Então esperar encontrar uma pessoa recheada de virtudes e coberta por qualidades nada mais é que o pior dos devaneios.

Muitas vezes esquecemos que somos os responsáveis pelo direcionamento de nossa vida e por mais que tenhamos percalços que as vezes atrapalhe o seguimento da vida, por mais que o mundo caia em cima de nossas cabeças nada tira de nossos ombros a responsabilidade pelas realizações de nossas vidas, terceirizar essa responsabilidade é covardia, é fraqueza... e infelizmente as conquistas não são uma constante para esse tipo de pessoas...

Então por essa lógica significa que não devemos esperar nada de ninguém? Sim... absolutamente NADA... Vamos conseguir agir deste modo? Não, provavelmente não... Então não devemos confiar em ninguém? Não é bem isso, confiar não significa esperar algo, confiar significa acreditar que determinada pessoa tem a capacidade de fazer algo...

A matemática é simples, 1+1 não é igual a 1, relacionamento não é subtração, é soma, é o encontro de dois inteiros que se juntam, não podemos nos contentar em sermos metades, não podemos nos contentar em sermos preenchedores de lacunas, complementar o outro não é preencher lacunas, é vivenciar situações que enriqueça cada parte da relação de forma individual, fazendo com que o relacionamento aconteça de forma mais sadia e real, afinal o mundo já está cheio de metades que fazem do relacionamento uma dinâmica destrutiva e ilusória, e o que nos sustenta é a realidade, ela que alicerça qualquer tipo de relacionamento, talvez ela não seja como histórias de contos de fadas, mas com certeza a realidade pode fazer com que os relacionamentos tenham desdobramentos felizes.

As pessoas elas chegam e um dia elas partem, seja de um modo ou de outro, então não podemos ser uma meia pessoa, por que estaremos fadados a viver pela metade, buscamos relacionamentos INTEIROS, e mais do que relacionamentos inteiros, precisamos ser seres humanos INTEIROS e quando isso acontece tudo muda, e estamos preparados para ser 100% em tudo na nossa vida e não meros meios esperando pelo acaso...