quinta-feira, 17 de março de 2016

Primeiro andar...

As coisas que eu escrevo são reflexo da minha alma, acho que o momento que sou mais verdadeiro é quando eu escrevo, é como se as palavras não aceitasse meias verdades, ou quem sabe meias mentiras, é somente o meu eu nu e cru, e ser a gente mesmo sem máscaras, sem entraves, sem limitadores sociais é algo tão bom, tão libertador, e no final das contas é isso que tenho buscado cada dia que acordo, ser livre. Mas livre de quem? Livre de mim mesmo, livre dos pensamentos que me limitam e de um eu tão triste fraco que me esforço a cada dia para deixar pra trás.
Da última vez escrevi sobre a importância de deixar, pessoas, lembranças, situações e pensamentos que nos prendem e nos impedem de crescermos, de melhorarmos, de sermos felizes de fato. Acho que esse texto foi uma despedida do meu velho eu, de lá para cá se passaram cerca de 04 meses e foram meses de solidão, de introspecção, de muito pensar e de enterrar fantasmas e mais do que isso fazer as pazes com a dor, hoje ela não me machuca mais, ela me motiva.

Acredito que este momento de introspecção tenha sido muito importante pra tomar a decisão de ir em frente, de entender que a vida segue, que as vezes é preciso parar, e que nem sempre é preciso correr, eu sempre comparei muito a vida com uma corrida, uma competição e hoje entendo que a vida não é uma corrida, ela é um passeio, uma caminhada onde cada um se move na velocidade que seus pés permitem, descobri que o importante não é a velocidade mas sim o movimento, se mover, sair do status quo e mudar. Mas mudar o que? Ir pra onde? Agir como? São algumas perguntas que pra mim continuam sem respostas, mas hoje ficar sem estas respostas não me deixam ansioso e com aquela sensação de estar perdido, porque descobri que a gente nunca sabe mesmo pra onde estamos indo, não somos donos do futuro, tão pouco refém do nosso passado, somos seres em movimento no agora, no presente e de deixarmos de olhar tanto pra trás e diminuirmos essa ânsia gritante pelo amanhã, consigamos de fato vivermos.

Tenho ouvido muito Los Hermanos ultimamente, e o que mais me chama a atenção são as letras de suas músicas que para mim não simplesmente músicas, são poesias devido a grandeza e poder das palavras, e tem uma música hoje que ouvi muitas vezes e me fez pensar em tudo isso que eu escrevi e mais do que isso, ela me fez entender que a gente nunca vai saber o que futuro nos reserva e que esse é o grande barato da vida, andar e descobrir.


"Já vou, será
Eu quero ver
O mundo, eu sei
Não é esse lá..."

O primeiro andar de uma criança é um andar meio hesitante, mas os passos são movidos pela sede de descobertas, a criança não sabe o que o mundo reserva pra ela, mas ela simplesmente anda e aprende a se mover, muitas vezes nós precisamos reaprender a andar mesmo que já tenhamos dados incontáveis passos precisamos muitas vezes esquecermos disto e darmos nosso "primeiro andar".

"...Por onde andar
Eu começo por onde a estrada vai
E não culpo a cidade, o pai..."

Nos preocupamos tanto com o ponto de partida ou nos prendemos tanto ao negativo que muitas vezes nos pegamos inventando as mais variáveis desculpas para continuarmos no ponto em que estamos, estagnados como eternos reclamões que terceirizam a responsabilidade pelos seus insucessos. 

Temos que começar a andar aonde estamos, aceitar o que temos e ir mesmo que a estrada tenha pedras, espinhos ou seja lá o que lhe amedronta, temos que ir em frente sem culpar quem ou o quer que seja.

"...Vou lá, andar
E o que eu vou ver
Eu sei lá ..."

E a gente precisa continuar indo, andando e o que a gente vai ver lá na frente, o que a gente vai encontrar, "eu sei lá", acredito que esse "sei lá"possa ter um duplo sentido, ele significa tanto a necessidade de se assumir o risco de ir de encontro com o desconhecido e mesmo não sabendo ainda o que vamos ver lá na frente, quando chegar a hora vamos descobrir. 

"... Não faz disso esse drama essa dor
É que a sorte é preciso tirar pra ter
Perigo é eu me esconder em você
E quando eu vou voltar, quem vai saber..."

Perdemos muito tempo dramatizando e arrumando justificativas para enfrentarmos o desconhecido, assumir o risco de andar as vezes pode ter dores, mas como diz a letra da música"a sorte, é preciso tirar pra ter", ou seja pra ter sorte é preciso se arriscar, ninguém ganha na loteria se não comprar um bilhete e a vida é assim ninguém chega a lugar nenhum se optar pela estagnação.

E nessa caminhada, muitas vezes paramos e nos escondemos atrás de outras pessoas, muitas vezes abrimos mão da nossa caminhada por outras pessoas, paramos por alguém, e nessa negação de si em favor do outro que mora o perigo.

"...Se alguém numa curva me convidar
Eu vou lá
Que andar é reconhecer
Olhar..."

A vida é uma incógnita e nessa incógnita qual o mal de as vezes desviarmos nossa rota? Afinal andar é reconhecer é olhar. Viver é isso aproveitar o acaso.

".. Eu preciso andar
Um caminho só
Vou buscar alguém
Que eu nem sei quem sou..."

A caminhada por busca de auto conhecimento é solitária, mas isso significa que eu vou passar uma vida sozinho para poder me conhecer? De jeito nenhum, mas para se auto conhecer é importante ter momentos de introspecção e contato com aquele eu que muitas vezes desconhecemos, é importante lembrar que individualidade é diferente de individualismo.

"... Eu escrevo e te conto o que eu vi
E me mostro de lá pra você
Guarde um sonho bom pra mim ..."

O autoconhecimento é individual, mas a troca de experiências de não. Podemos caminhar sem necessariamente nos escondermos nos outros, a vida ela é assim uma troca constante de experiências, pra se encontrar não é preciso deixar de ser, pra se encontrar é preciso continuar. Continuar o quê? Continuar andando.