terça-feira, 8 de setembro de 2015

De luto... mas eu luto

Todos os seres constroem sua vida em relacionamentos, criamos laços e esses laços faz com que nos envolvamos afetivamente, seja na nossa família, em nossa vida profissional em nossos empregos, com nossos bens materiais, nossos animais de estimação e nossas relações amorosas, todas elas são laços, e as vezes estes laços nos envolvem, essas relações começam a fazer parte da nossa vida, e acreditamos que a outra parte envolvida nestes laços é nossa, um bem, uma propriedade, e a grande verdade é que não é, a única coisa que de fato é nossa em nossa passagem terrena somos nós mesmos, de resto não temos nada.

Mas somos seres egoístas, e quando alguma coisas nos é tirada, ou até mesmo quando algo ou alguém decide que está na hora de soltar os laços e terminar algum tipo de relacionamento, uma injustiça está sendo feito, tendemos a não enfrentar os finais como eles devem ser enfrentados, trabalhar as perdas da maneira correta não é uma tarefa tão fácil, aceitarmos que somos impotentes perante as perdas é doloroso. Como aceitar a perda de um ente querido? A morte do seu animal de estimação? A perda de um objeto que tem um valor afetivo inestimável? Como aceitar que o amor da sua vida, não durou para sempre? Como aceitar a perda daquele emprego para o qual você se dedicou tanto?

Não é certo, Deus deve estar errado, ou então nos pregando uma peça, porque aquilo ou aquele era meu, como ele pôde tirar isto te mim sem ao menos me pedir autorização? Eu não mereço sofrer, eu não mereço perder. São muitos "nãos" que vem à nossa cabeça em uma situação de perda, a famosa negativa, negamos que podemos perder, mais que isso, negamos que perdemos, uma situação de perda é fato consumado, perdemos e ponto final, não existem possíveis desdobramentos, só a perda e só. 

E quando perdemos precisamos vivenciar o luto, a psicologia fala que para vivenciarmos o luto precisamos passar por alguns estágios, o primeiro é a negação que falei acima, onde negamos a perda, insistimos em acreditar que ela não aconteceu, depois vem a raiva, ficamos com raiva do mundo, raiva de Deus, uma pontinha de inveja daqueles que tem aquilo que perdemos, culpamos a Deus e ao diabo por nossa dor, a perda é inconcebível e inaceitável neste estágio, e nosso ego insiste em nos cegar e dizer que não podemos perder, temos que ter tudo e tudo do nosso jeito.

A raiva vai passando e dai entramos em um estágio de negociação, queremos negociar a nossa dor, normalmente esta negociação é com Deus, prometemos sacrifícios, fazemos promessas, juramos por Deus e todos os santos coisas inimagináveis para termos o quer perdemos novamente, mais uma vez nosso egoísmo gritando, transformando adultos em crianças mimadas que podem e querem tudo a qualquer custo, como eu disse a negociação é vã, afinal a perda é fato consumado, o que se foi se foi, não volta, não podemos trazer alguém da morte, não podemos fazer com alguém que decidiu sair de nossa vida volte só porque queremos, só porque sofremos, a vida ela é dura, é feita de ciclos, e todo ciclo tem início, meio, fim e algo que muitas vezes esquecemos, recomeço... então não adianta negociar, é preciso aceitar os fins, mas antes de aceitar passamos por um outro estágio, a depressão.

Quando falo em depressão não necessariamente estou falando de uma depressão severa, mas sim uma tristeza, esta tristeza vem depois que a negação e a raiva vão perdendo espaço, e quando estes dois sentimentos vão embora o que resta é um vazio, e nada pior para qualquer ser humano do que se sentir vazio, sentir que lhe falta algo, sentir que com a perda daquela pessoa ou daquela coisa, se vão todos os planos e todos os projetos relacionados ao ente ou objeto perdido, é quando a dor é real, quando a dor é mais razão e menos impulso.

Depois da tristeza vem a aceitação, quando entendemos que não somos donos de nada e de ninguém, quando aceitamos a perda, e entendemos que o espaço vazio pode ser preenchido e que pessoas e objetos vão, mas as lembranças, o bem feito fica, aceitamos o fim...  e quando aceitamos com paz e serenidade completamos nosso luto, e ninguém passa por um processo de luto e continua do mesmo jeito, o luto nos muda, nos transforma e nos marca. 

Perder é uma merda, perder dói, mas perder nos torna mais humanos e menos egoístas... A vida é passageira, pessoas e coisas, vão e vem, histórias começam e terminam, e a única coisa sobre a qual temos poder é sobre nossas ações, valorize sempre o que tem e quem você tem do seu lado, porque tudo tem um fim e quando este fim chegar a dor vai ser inevitável, mas ela pode ser menor se você tiver o sentimento de dever cumprido, de ter dado valor ao que realmente tem valor.

Quando perder, grite, chore e sofra, mas o principal aceite a perda e lembre que tudo tem início, meio, fim e o principal um RECOMEÇO!

No luto... lute!