sexta-feira, 17 de julho de 2015

O poder do positivo...

Fiquei um bom tempo sem escrever, mas não por um motivo ruim, muito pelo contrário, tem muitas coisas acontecendo nestas últimas semanas, planos que estavam somente na minha cabeça, estão ganhando formato, deixando de ser só um sonho e se tornando realidade, e isto está me trazendo tanta felicidade, um sentimento tão bom que acho que não consigo descrever em palavras.
Nas minhas últimas postagens eu havia falado muito sobre os momentos ruins que estava passando e sobre como foi sair desse buraco negro chamado depressão e voltar ao normal, mas eu descobri uma coisa, que quem passa por um episódio depressivo, nunca mais volta ao normal, nunca mais somos os mesmos, quando vencemos a depressão nos tornamos melhores, nos tornamos maiores.

A angústia e a tristeza dão lugar à gratidão, a gente passa a ver que temos mais coisas para agradecer do que para reclamar, as pequenas coisas ganham valor e no fim das contas você enxerga e reconhece o quão rico é, e que na caminhada evolutiva, as vezes é preciso cair para se levantar e ver mais longe, você vê que seus olhos enxergam caminhos e soluções que antes eram invisíveis, que suas pernas são tão fortes que você pode andar quilômetros sem se cansar, que seus braços cruzados hoje se abrem num abraço, que seus ombros caídos hoje são forte e suportam muito mais peso do que antes, e que seu coração antes despedaçado e descompassado, hoje bate compassado e feliz e pronto para voltar a confiar e amar novamente.

Esta doença faz com que deixemos muitas vezes de acreditar nas pessoas, passamos a nivelar todos por baixo, como se o comportamento ruim de alguém obrigatoriamente se tornasse padrão para todas as outras pessoas ao nosso redor, a percepção da realidade e do ser humano se distorce, esquecemos que o mal é minoria e que pra cada pessoa disposta a nos machucar existe uma multidão capaz de arrancar um sorriso de nosso rosto, por mais que existam pessoas ruins, por mais que passemos por situações difíceis, o universo tende para o positivo, e é nesta palavra que está a chave para toda a mudança. 

Ser positivo, acreditar que o melhor pode, deve e vai acontecer... mudar nossa percepção sobre o mundo e a respeito das pessoas, enxergar o bom não é fácil, mas é libertador, é gratificante, nos traz paz e no fim das contas é isso que nos mantém firme e seguindo em frente. E nesse momento meu maior desejo é para que todas as pessoas que estão vivendo reféns da depressão se encontrem, se enxerguem vencedoras como são, e mudem seu jeito de pensar, que passem a enxergar o mundo e a se enxergarem de um modo mais positivo, de um modo mais real.

Tem muita coisa boa neste mundão, então mude-se e aproveite...


quarta-feira, 1 de julho de 2015

Para sempre Alice

Acredito que perder as suas lembranças deve ser uma das piores coisas que pode acontecer ao ser humano, se esquecer de tudo o que viveu, das experiências boas e ruins, se esquecer dos tombos, dos sucessos, dos sorrisos, das lágrimas, dos amores, da família, da sua cor favorita, da comida que mais gosta, esquecer-se de si, é como perder sua história e isso sim é triste, esquecer da sua história, deixar de existir, deixar de ser.

E é isso que o filme "Para Sempre Alice" retrata, ele conta a história de Alice, uma professora e pesquisadora de linguística da Universidade de Columbus que sempre se destacou por seu intelecto, que descobre aos 50 anos que sofre de Alzheimer, e vê sua vida mudar num curto espaço de tempo devido ao poder avassalador da doença. Alice é interpretada pela maravilhosa atriz Julianne Moore, a qual ganhou um Óscar pelo papel, que diga-se de passagem foi merecidíssmo, porque a atuação dela é sensacional, a mudança da personagem com a evolução da doença impressiona, de uma mulher bonita e imponente para uma mulher mal tratada e frágil, a fragilidade de Alice é tão tangível que me pensar e repensar em algumas coisas.

O nosso sistema cognitivo é tão rico e importante, é ele que nos faz perceber o mundo, experimentar situações, desenvolver o raciocínio, criarmos memórias e usarmos todos estes dados para continuarmos nossa evolução dia após dia, nosso sistema cognitivo nos mantém em equilíbrio. Há algumas semanas atrás, meu computador teve uma falha no sistema operacional e eu não conseguia mais utilizá-lo da maneira que precisava, perdi diversos arquivos, a funcionalidade dele ficou reduzida até que ele simplesmente parou de funcionar e me vi obrigado a comprar outro, o Alzheimer funciona do mesmo modo, nosso sistema cognitivo, vai se debilitando cada vez mais e o doente vai perdendo sua funcionalidade, pequenos lapsos de memória que vão progredindo até o doente não se lembrar mais de seus familiares, das suas necessidades fisiológicas e nem mesmo de si próprio, até chegar uma hora que esse organismo tão complexo chamado ser humano para de funcionar, mas diferente de um computador, não temos como comprar um cérebro novo, ou fazer um backup de nossas memórias, o Alzheimer é uma doença degenerativa e ainda sem cura.

Depois do filme fui ler um pouco mais sobre a doença e os números me impressionaram, atualmente no mundo temos por volta de 36 milhões de pessoas que sofrem da doença e com o aumento da expectativa de vida esses números tendem a aumentarem drasticamente, duplicando até 2020 e triplicando até 2050, no caso de Alice ela diagnosticou a doença aos 50 anos, idade incomum para a manifestação da doença, ela procurou um neurologista pensando que tinha dito um derrame ou estava com algum tipo de tumor no cérebro, mas nunca passou pela cabeça dela que poderia ter Alzheimer, nem pela minha, afinal o que ela mais fazia era exercitar sua cognição, ela era extremamente inteligente, mas como disse o médico, a capacidade dela intelectual fez com os sintomas demorassem mais a aparecer, mas em contrapartida isso estava inversamente ligado com a velocidade da evolução da doença, ou seja, a doença evolui muito rapidamente, em 02 anos ela já havia perdido a percepção de si.

Tudo isso me fez pensar o quão pequenos e vulneráveis somos, hoje podemos ser doutores e amanhã estarmos dementes sem saber ao menos amarrar um sapato, e mais do que isso o quantos somos dependentes de outras pessoas, o quão importante é criar laços e relacionamentos verdadeiros, saudáveis e duradouros, porque como dizem "o mundo dá voltas e o trecho é curto", então nunca sabemos quando vamos precisar que alguém nos estenda a mão. No caso de Alice ela tinha uma família bem estruturada, um marido que a amava e três filhos adultos e bem formados, e mesmo assim ficou visível que a doença não só desgastava a cognição de Alice, como também sua família, todos adoeceram, todos tiveram que reaprender, se readaptar.

Um tempo depois de descobrir a doença Alice foi convidada a dar uma palestra sobre o tema para um grupo de pessoas envolvidas na doença, pacientes no estágio inicial da doença, médicos e parentes de doentes, e o mais interessante é que ela havia escrito um discurso muito técnico sobre a doença e levado três dias para conseguir escrevê-lo, mas sua filha mais nova disse que ela deveria ser menos técnica e mais assertiva e escrever sobre o que a doença significava para ela e o discurso foi simplesmente comovente, a parte que mais gosto é quando ela diz que não para as pessoas pensarem que ela estava sofrendo, mas sim que ela estava lutando.

Vale muito a pena assistir ao filme, repensarmos uma pouco sobre nossa percepção da vida, nos apegamos muito ao passado, às memórias, às nossas lembranças, projetamos muitas coisas para o futuro, criamos expectativas e planos que não temos a certeza se vão se concretizar ou não e nessa angústia em relembrar o passado e criar um futuro acabamos por não viver o hoje, e acredito eu que essa seja a maior lição que o filme me deixou, valorizar mais o presente, afinal não sabemos o futuro e em um piscar de olho podemos esquecer todas as nossas lembranças.

Escrevendo assim passa a impressão que o filme é um filme pesado, mas pelo contrário é um filme super leve, daqueles gostosos de ver, a deterioração de Alice chama atenção, afinal Alice vivia de seu intelecto, sua capacidade de raciocinar era o que a movia, pensar a fazia existir, e a capacidade de pensar já não existia, ela perdeu a capacidade de formar frases, resgatar lembranças, só existia o caos, e isso nos faz pensar que Alice havia deixado de existir. Pode haver algo pior do que deixar de existir, do que deixar de ser? 

Poderia passar horas aqui falando sobre minhas impressões sobre o filme, todas as cenas vão fazer você repensar algo, isso se você estiver disposto a isso, mas de novo, a cena que mais me cativou foi a cena do discurso, segue abaixo a íntegra do discurso e o meu convite para assistirem o filme.

“A poetisa Elisabeth Bishop escreveu: ‘A arte de perder não é nenhum mistério; tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério’. Eu não sou uma poetisa. Sou uma pessoa vivendo no estágio inicial de Alzheimer. E assim sendo, estou aprendendo a arte de perder todos os dias. Perdendo meus modos, perdendo objetos, perdendo sono e, acima de tudo, perdendo memórias.
Toda a minha vida eu acumulei lembranças. Elas se tornaram meus bens mais preciosos. A noite que conheci meu marido, a primeira vez que segurei meu livro em minhas mãos, ter filhos, fazer amigos, viajar pelo mundo. Tudo que acumulei na vida, tudo que trabalhei tanto para conquistar, agora tudo isso está sendo levado embora. Como podem imaginar, ou como vocês sabem, isso é o inferno. Mas fica pior.
Quem nos leva a sério quando estamos tão diferentes do que éramos? Nosso comportamento estranho e fala confusa mudam a percepção que os outros têm de nós e a nossa percepção de nós mesmos. Tornamo-nos ridículos. Incapazes. Cômicos. Mas isso não é quem nós somos. Isso é a nossa doença. E como qualquer doença, tem uma causa, uma progressão, e pode ter uma cura. Meu maior desejo é que meus filhos, nossos filhos, a próxima geração não tenha que enfrentar o que estou enfrentando. Mas, por enquanto, ainda estou viva. Eu sei que estou viva. Tenho pessoas que amo profundamente, tenho coisas que quero fazer com a minha vida. Eu fui dura comigo mesma por não ser capaz de lembrar das coisas. Mas ainda tenho momentos de pura felicidade. E, por favor, não pensem que estou sofrendo. Não estou sofrendo. Estou lutando. Lutando para fazer parte das coisas, para continuar conectada com quem eu fui um dia. 
‘Então, viva o momento’, é o que digo para mim mesma. É tudo que posso fazer. Viver o momento. E me culpar tanto por dominar a arte de perder. Uma coisa que vou tentar guardar é a memória de falar aqui hoje. Irá embora, sei que irá. Talvez possa desaparecer amanhã. Mas significa muito estar falando aqui hoje. Como meu antigo eu, ambicioso, que era tão fascinado em comunicação. Obrigada por essa oportunidade. Significa muito para mim.”  Alice