Ontem fiz uma viagem longa e sozinho, e sempre quando dirijo é lei ligar o rádio do carro muito alto e viajar ouvindo música, e sempre tem alguma música que toca e você logo se identifica, e ontem não foi diferente, no meio de um milhão de músicas de estilos diferentes, tocou Sete Vidas da Pitty, e uma frase me chamou a atenção em especial "... se coisa ruim faz a gente crescer e todo esse clichê, já nem caibo mais na casa, já nem caibo mais aqui..." pensei comigo e isso pra mim neste momento que estou passando faz muito sentido, tem tanta coisa ruim acontecendo que devo estar me transformando em um gigante, e conforme a gente vai crescendo alguns espaços se tornam pequenos para nossa estatura, vamos crescendo e trocando as roupas que não servem mais, e buscando por espaços que consigam acomodar nosso tamanho da melhor forma, então pensei, as coisas ruins nos preparam para coisas maiores, então acredito que o que estou passando seja para isso, uma preparação para algo maior que estar por vir.
Como sou um cara bem curioso, fui procurar no grande oráculo chamado "Google" alguma informação sobre a letra dessa música assim que cheguei em casa, porque depois de ouvir a música repetidamente eu pensei que comigo que aquela letra era muito pessoal, muito visceral e deveria ter sido motivada por alguma experiência de vida muito dolorosa, mas muito significativa e achei que ela passou mesmo por algumas experiências ruins, como o suicídio de seu melhor amigo de infância o qual fazia parte de sua banda e uma doença que a levou para a UTI e a deixou afastada dos palcos por meses, e consequentemente uma depressão.
Mas como ela canta na música "...é besta sim, esse quase morrer, desconsertante perceber que as coisas são, e tudo floresce a despeito de nós..." e realmente é isso mesmo, quando a gente chega lá no fundo do poço, quando parece que tudo acabou é isso mesmo que a gente pensa, as coisas são, e ponto final, problemas são problemas, fugir, fingir que eles não existem não mudam a realidade, os problemas existem e continuam ali, até que chega uma hora que a gente percebe que o mundo não gira ao nosso redor, que as pessoas continuam a viver com ou sem você, você estando bem ou não, não que as pessoas não estejam dispostas a nos ajudar, mas acredito que as maiores batalhas são lutadas sozinhas, como ela mesma diz no trecho seguinte viver é coisa de insistente "... pálido, doente, rendido e decadente, viver parece mesmo coisa de insistente..." parece forte o que eu vou escrever agora, mas nos últimos meses a única coisa que eu não tinha era vontade de viver, pedia a Deus todas as manhãs e noites para que Ele me levasse porque tudo parecia muito pesado, tudo parecia cinza, e não queria mais insistir, mas sempre tinha uma voz que dizia pra continuar, pra dar mais um passo, e assim fui indo, insistindo e indo.
E esse insistir vale a pena, confesso que não venci ainda a batalha que tenho travado contra a depressão, mas definitivamente me sinto muito mais forte do que eu era há meses atrás, muito mais humilde e muito mais conhecedor de mim "...a postura combativa, ainda estou aqui vivo, um pouco mais triste, mas muito mais forte. E agora que voltei quero ver me aguentar...", então tenho seguindo combatendo o bom combate, como diria Paulo, e assim estou aqui vivo, mais triste eu confesso, mas muito maior e muito mais forte, e só tenho a dizer que quem queria me ver lá no fundo vai ter que aceitar que lá não o meu lugar e me aguentar, porque minha natureza é resiliente, minha natureza é a de continuar e seguir...