terça-feira, 13 de setembro de 2016

Sinto, sinto e sinto...

Sempre travei uma batalha dentro de mim, dois "eus" completamente diferentes se enfrentando, um querendo se sobressair ao outro, uma luta constante entre a razão e a emoção, a razão sempre me pedindo cautela, me mostrando os possíveis perigos e freando meus passos e do outro a emoção louca desvairada me pedindo pra ir, pra correr, pra me jogar do precipício e confiar, só ir...

Quando era mais novo segui muito a emoção, fiz muitas coisas sem pensar, e me arrependo de poucas, mas confesso que muitas vezes minha impulsividade me levou para caminhos tortuosos e convivo com as marcas das minhas escolhas até hoje, mas seguir a emoção nos dá aquela sensação de estar vivo, sentir o coração bater forte, a adrenalina tomar conta do corpo, uau, que sensação maravilhosa... mas nem sempre a emoção nos conduz às melhores escolhas, nem sempre... e comigo foi o que aconteceu, foram tantos tombos que acabei desistindo de ouvir a emoção.

Deixei de ouvir a emoção, coloquei ela na última gaveta do criado mudo e lá deixei, esqueci, fingi pra mim mesmo que não precisava mais dela pra encarar esse mundo de frente, transformei a razão na minha melhor amiga, me tornei um estrategista, cada movimento calculado, cada risco e possibilidade estudada e ponderada, confesso que consegui alcançar muitas coisas nesse jogo onde cada peça tem sua finalidade e cada movimento é previamente calculado, ganhei muito, mas perdi muito também, o coração que antes era quente foi perdendo seu calor, gradualmente e de forma imperceptível, o sorriso largo foi ficando cada vez mais triste, antes sincero, se tornou uma máscara e viver de máscaras é tão ruim, viver sem sentir não é viver é sobreviver.

E assim andava eu sobrevivendo nesse mundão, me lamentando pelos erros e pelas perdas, olhava para o futuro e não esperava muita coisa dele, não esperava sorrisos, não esperava mais empatia, não esperava mais nada de muito grandioso, ia sobrevivendo e já me estava de bom tamanho... 

Voltar a amar? Voltar a sentir? Jamais... Pensei que depois de errar tanto, de conhecer tanta gente, eu não teria mais essa dádiva, pensei que tivesse chegado em um ponto em que não tivesse mais a capacidade de amar e muito menos que merecesse ser amado, e lá no fundo já tinha até me acostumado com a ideia, e se caso, remotamente eu tivesse que me envolver com alguém seria com uma pessoa com X características, como todo bom racional, já tinha desenhado em minha mente o modelo perfeito, cada característica milimetricamente estruturada de forma que essa pessoa entrasse em minha vida, mas não a dominasse, que ela tivesse um certo limite, que ela não tivesse poderes para adentrar lá naqueles cantinhos da alma onde a gente guarda os nossos maiores segredos, os nossos medos gigantes e principalmente os nossos sonhos... Mas como não encontrei ninguém assim, também tinha desistido de procurar, desistido de encontrar, e continuei sobrevivendo.

Continuei sobrevivendo, e de repente o destino, que acredito tenha um humor ácido e sarcástico, colocou alguém no meu caminho, e esse alguém tinha todas as características que eu não queria, não era o meu modelo perfeito, mas ele tinha qualidades que eu tinha esquecido que eram tão importantes, outras que nem conhecia... E comecei a ver que as pessoas não sorriem só com os lábios, porque o sorriso mais lindo dele é o que vem dos olhos, comecei a entender que a maturidade não está nos anos vividos, mas sim na grandeza das atitudes, voltei a acreditar que existem pessoas que se importam, porque ele se importa comigo, de uma maneira tão genuína que as lágrimas escorrem no meu rosto enquanto escrevo, eu que há tanto tempo não chorava nem por dor, hoje choro por amor, por me sentir amado.

Não tenho o modelo perfeito, e nem mais o quero, porque entendi que o que preciso é do real imperfeito, dos dentes separados, das tatuagens mal traçadas, do andar desengonçado, de cada imperfeição perfeita, porque foram nessas imperfeições que me achei, depois de tanto tempo perdido, me encontrei, depois de tanto tempo no cinza volto a descobrir uma aquarela, fiz as pazes com o silêncio, tirei o coração da gaveta, e sinto ele bater novamente, sinto, sinto e sinto... me sinto vivo... me sinto inteiro, me sinto pronto... pronto pra começar de novo.


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