segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Deixar ir embora...

Nas últimas semanas tenho tentado escrever sobre este tema, mas parece que toda vez que começo a escrever, algo me interrompe, talvez seja mera coincidência, ou talvez seja meu inconsciente me sabotando para que eu não entre em confronto e continue fingindo, enganando a mim mesmo dizendo que tudo está bem no meu belo e perfeito mundo azul.

Deixar ir embora... como é difícil deixar ir embora uma parte da nossa história, e quando eu falo deixar ir embora não é simplesmente deixar o físico ir difícil mesmo é deixar partir a história, mostrar a porta de saída para as emoções, para os sentimentos, para as lembranças que aquele partiu deixou, se é que foram deixadas, acredito mais que aprisionamos as lembranças, os sentimentos, como uma forma de manter um pedaço de quem se foi com a gente.

Terminar um relacionamento não é algo fácil, é uma história construída a dois que termina, e o que era vivo vai se tornando uma memória cinzenta, as formas, o cheiro, o toque, o beijo, tudo se torna meras lembranças em nossa mente, e essas lembranças correm, e quando desaceleramos estas lembranças, quando elas passam em câmera lenta em nossa mente, conseguimos entender o porque deixar ir embora é tão doloroso, porque quando fazemos uma releitura das nossas lembranças, nós entendemos o porque nossos olhos brilharam, nosso coração acelerou e porque por um tempo de sua vida você chegou a acredita que aquela seria a pessoa que estaria do seu lado pelo resto de sua vida.

Quando repassamos estas lembranças, entendemos de onde veio o encanto, tudo faz sentido, você consegue identificar o momento exato em que você se apaixonou por aquela pessoa que foi embora, e esta mágica é tão grande que se pudesse você se apaixonaria uma, duas, quantas vezes fossem necessárias por aquela mesma pessoa, mas então você se dá conta que acabou e que tudo agora não passa de lembranças e recordações em uma caixa guardada dentro do armário.

E quando nos damos conta, o sorriso frouxo dá espaço a uma lágrima quase involuntária, e daí o que nos resta é a dor, a dor da perda, a dor da frustração, a dor de deixar ir uma parte de si... Uma certa vez, há muito tempo atrás uma pessoa me contou uma história de um imperador chinês que se apaixonou pelo canto de um rouxinol, e de tanto que aquele canto lhe fazia bem ele pediu para que seus soldados, capturassem e aprisionassem o rouxinol em uma gaiola para que ele pudesse sempre ouvir o canto do rouxinol, mas com o passar do tempo o rouxinol parou de cantar de tanta tristeza por estar preso, e o imperador então soltou o rouxinol para que ele não morresse... Já ouvi e li esta história com diferentes narrativas e finais, mas no final das contas acredito que o que ela quer deixar de ensinamento que deixar ir embora é preciso, manter alguém preso ou se manter preso em um relacionamento onde não existe mais o canto do rouxinol é condenar a si próprio a uma vida de tristeza, e isso não é justo para quem está do nosso lado e principalmente para nós próprios.

Alguns dizem que o tempo cura todas as cicatrizes e ele se encarrega de colocar todas as coisas seus devidos lugares, mas já tentei deixar isso por conta do tempo e hoje vejo que não funcionou, então não basta aceitar o final e deixar ir embora e esperar que o tempo passe e tudo se resolva, que a dor vá embora, desapareça como se nunca tivesse existido. A vida não funciona assim, o tempo só esconde, ele não resolve, não podemos deixar a cargo do tempo uma responsabilidade que é nossa, o tempo acalma o coração para que possamos tomar as decisões mais acertadas, e a decisão correta é deixar ir não só a pessoa, mas deixar ir as lembranças, deixar ir embora os sentimentos que ela deixou, porque enquanto continuarmos apegados a estas lembranças, a estes sentimentos e emoções nunca vamos ter deixado ir embora em definitivo, sempre vai ter um pedaço daquela pessoa em sua vida, vamos viver iludidos que nossa felicidade está condicionada a ela, que só podemos sentir, que só podemos sorrir, que só podemos amar se for aquela pessoa... e nesse jogo de enganar-se a si próprio o tempo vai passando e com ele as oportunidades de sentir tudo aquilo novamente com uma outra pessoa, as oportunidades de fazer com que aquelas lembranças e aqueles sentimentos voltem a acontecer, em um contexto diferente e com possibilidades de desfechos diferentes.

É importante deixar ir embora, para que um novo alguém possa entrar...


terça-feira, 3 de novembro de 2015

Take me to church...

Sou amante de músicas, mas não de qualquer tipo de música, gosto de músicas de melodia mais elaborada e letras mais intensas, músicas que me façam pensar, música que tirem da minha zona de conforto, que arranquem a casca da ferida e jogue álcool em cima, sem dó nem piedade.

Lembro de ter lido em algum lugar que músicas emocionalmente intensas, tipo aquelas que fazem você lembrar do fim de um relacionamento, que remetem a algum tipo de sofrimento ou experiência significativa, fazem com que nosso organismo libere dopamina, o neurotransmissor que promove a sensação de prazer, então podemos dizer que ouvir Adele equipara-se a a satisfação que a comida, sexo e drogas proporcionam.

Além da questão da dopamina, normalmente essas músicas possuem apogiaturas, que são notas usadas para ornamentas a melodia principal, estas notas secundárias podem estar acima ou abaixo da nota principal, e são muito utilizadas pelos corais gospeis americanos, aqueles que arrepiam qualquer ouvinte, pois bem, as apogiaturas geram tensão no ouvinte, e depois do período de tensão vem a satisfação, ou seja, quanto mais apogiaturas a música tem, maior é o ciclo de tensão vs. satisfação.

Mas não quero falar sobre a base científica que fazem com que nos viciemos em algum tipo de música, como está acontecendo com a mais nova música da Adele, que por sinal é uma música maravilhosa, mas tirando a ciência, tirando a razão o que nos resta é a emoção, porque afinal de contas somos assim, um misto de razão e emoção em proporções diferentes, mas sempre com estes dois pólos.

Acredito que algumas músicas fazem com que nos lembremos de alguma situação antiga ou presente que possuem um significado emocional grande para nós, algumas músicas fazem você refletir e sair fora da sua zona de conforto emocional, lugar que normalmente ficamos e não fazemos muita questão de sair, afinal sempre vai ser mais fácil acomodar do que confrontar.

Agora pouco ouvi uma música, Take me to church do Hozier, que me fez pensar em algo que muito me aflige, a questão dos dogmas religiosos, o quanto o dogmatismo pode ser extremamente prejudicial, acho que por mais de uma vez já escrevi que na minha concepção tudo que é radical não é real, então busco fugir do radicalismo seja ele qual for, mas nem por isso me permito ficar em cima do muro, não me permito fingir não ter uma posição ou uma opinião sobre alguns assuntos.

Dizem que política, futebol e religião não se discutem, sou contra essa linha de pensamento, acho que política e religião devem ser discutidas sim, afinal são essas, as duas maiores forças formadoras de opinião no planeta, a política de forma macro e a religião de forma mais pessoal determinam o tipo de sociedade e de cidadão que somos, então é um assunto que precisa ser pensado, repensado, discutido e questionado.

Desde sempre a religião tem funcionado mais como um agente castrador do que um agente motivador dentro das sociedades, os dogmas religiosos são ferramentas de coerção e medo, o dogmatismo não valoriza a individualidade, não valoriza as diferenças, é muito mais difícil manter as pessoas sob controle, quando elas podem se expressar suas individualidades e contestar os paradigmas sociais, afinal de contas individualidade e gestão de massa são dois conceitos que se relacionam muito bem.

E a letra dessa música foi como um soco no estomago, me fez ver o quanto hoje em dia a religião se tornou suja, o quanto hoje as pessoas fazem as atrocidades que fazem em nome de um Deus egoísta e sadista. Como é fácil hoje em dia ser ignorante, como é fácil hoje em dia ser racista, como é fácil hoje em dia ser covarde, é fácil demais, afinal hoje em dia é tudo responsabilidade de Deus, somos idiotas porque Deus quer que sejamos idiotas, nossa estupidez se baseia em uma fé cega e inconsequente.

Pobre humanidade, séculos e séculos se passaram e nos consideramos evoluídos com base nas descobertas e feitos tecnológicos enquanto nossa alma continua tão ignorante quanto na época em que se quer a roda havíamos descoberto, continuamos os mesmos idiotas mimados que insistem em terceirizar a responsabilidade das suas ações a um Deus onipresente, onisciente e onipotente. Eu particularmente acredito em Deus, mas o meu Deus é muito diferente desse Deus tão cultuado hoje em dia, acredito em um Deus que ama a todos, um Deus que respeita a todos, um Deus que nos conhece pelo nome, afinal não somos um rebanho de ovelhas, somos pessoas diferentes tentando conviver em um mundo comum.


Para aqueles que não estão com o inglês afiado a ponto de entenderem a letra completa, segue link com a letra e a respectiva tradução,